“Bancões” se preparam para período turbulento com aumento de provisões e crédito

Publicado em: 25/05/2023

Os resultados dos grandes bancos da Bolsa no primeiro trimestre de 2023 (1T23) diminuíram alguns temores, mas também reforçaram certas preocupações. A surpresa positiva, de um modo geral, foi o comportamento dos índices de inadimplência, que não cresceram da forma dramática, num período em que o tomador do crédito pessoa física costuma estar mais apertado financeiramente. Por outro lado, as instituições financeiras parecem se preparar para um cenário turbulento, ao reforçar conservadorismo na cessão de crédito, ao mesmo tempo em que aumentam suas provisões.

“A inadimplência ainda está sob controle, mas os bancos já estão fazendo provisões adicionais, antevendo que haverá uma piora na qualidade de crédito e de capacidade de pagamento”, afirma Luis Miguel Santacreu, analista de risco da Austin Rating.

Ainda que enfrentem o mesmo ambiente de desaquecimento econômico, com taxas de juros elevadas, Banco do Brasil (BBAS3), Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) não foram impactados da mesma forma pela macroeconomia. A divergência nos resultados dos “bancões” vem desde o ano passado e se manteve nos três primeiros meses de 2023, sem mudanças na avaliação sobre os melhores e piores da temporada.

“No todo, não houve uma piora relevante dos bancos que estavam bem, tampouco dos que já estavam mal. Fosse esse o caso, certamente haveriam discussões mais duras sobre o que poderia acontecer com o sistema bancário”, afirmou Pedro Gonzaga, sócio e analista da Mantaro Capital.

Com políticas mais restritivas que as de um ano atrás, essas instituições se mostram mais atentas a riscos de crédito, inclusive nas concessões para as empresas, em que os spreads são maiores, após casos emblemáticos de recuperação judicial, como Americanas (AMER3) – que impactou menos o balanço dos bancos este trimestre – Oi (OIBR3;OIBR4) e Light (LIGT3).

“Os bancos estão mais duros na concessão de crédito, mas também há problema de demanda. Pode haver um componente das empresas mais conservadoras em relação ao cenário macro, menos sedentas por crédito. Tem um pouco dos dois lados”, diz Gonzaga.

Santacreu acredita que os impactos da taxa de juros e o desaquecimento da economia vão ficar mais claros no segundo trimestre. “A boa prática bancária exige prudência numa hora dessas”, afirma, fazendo referência à postura mais conservadora dos bancos. O analista acredita em uma maior convergência no comportamento dos bancos daqui em diante.

“O Banco Central não vai reduzir os juros tão rápido, então vamos ver um segundo trimestre com crescimento mais modesto de crédito. O ‘macro’ vai responder mais pelo crescimento das carteiras e a gente deve ver um maior alinhamento entre os bancos em termos de seleção de crédito, um comportamento mais similar”, diz Santacreu.

Bradesco: inadimplência do banco disparou

Os números do Bradesco vieram acima do esperado, mas não deixaram de ser vistos como fracos pelos analistas. O lucro líquido recorrente de R$ 4,3 bilhões no primeiro trimestre de 2023 foi 37,3% menor na comparação anual. O consenso Refinitiv esperava uma cifra de R$ 3,596 bilhões.

Mas um dos pontos do balanço que mais chamou atenção foi a disparada da inadimplência nas dívidas vencidas há mais de 90 dias. O índice saltou de 4,3%, no quarto trimestre de 2022, para 5,1%. “O Bradesco fazia venda de carteira ativa para renegociar crédito e, por muitos trimestres, a carteira muito ruim do banco não ficou tão evidente”, observa Para Pedro Gonzaga, analista da Mantaro Capital. Segundo ele, tirando esse efeito, é possível dizer que a piora da inadimplência do banco, na verdade, desacelerou.

Para Octavio De Lazari Júnior, CEO do Bradesco, os índices de inadimplência ainda vão piorar no segundo trimestre deste ano com chances de se agravarem um pouco mais no terceiro. “Mas todos os sinais mostram recuperação. As novas safras de crédito têm níveis de inadimplência menor”, afirmou na teleconferência.

A carteira de crédito do Bradesco terminou o trimestre em R$ 879,28 bilhões, sofrendo uma redução de 1,4% em relação ao final do ano passado. “Foi o único banco com queda sequencial de carteira”, observa Gonzaga, da Mantaro. “Isso ocorreu até mesmo no atacado, diferente dos outros, que aproveitaram os spreads mais altos, após o evento da Americanas (AMER3)”.

Fonte: Infomoney

 

Bancos reduzem volume de provisões para R$ 80 bi e lucrarão mais em 2018

Publicado em: 20/04/2018

As provisões feitas pelas instituições financeiras (bancos) para cobrir eventuais perdas com devedores recuaram e devem ficar entre R$ 75 bilhões e R$ 80 bilhões em 2018. Se confirmada essa expectativa, será uma redução significativa em relação aos montantes provisionados em 2017 (R$ 92 bilhões) e junho de 2016 (R$ 123 bilhões) e proporcionará uma alta do lucro dos bancos em 2018.

Redução de volume

“A queda da inadimplência proporciona uma redução das provisões, e uma [consequente] melhora no retorno das instituições”, disse o diretor de fiscalização do Banco Central (BC), Paulo Souza, em coletiva realizada ontem sobre a divulgação do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) sobre o segundo semestre do ano passado. Segundo o documento divulgado, a rentabilidade dos bancos foi fortemente beneficiada pela queda de R$ 23,3 bilhões nas despesas de provisão entre dezembro de 2016 e igual mês de 2017.

“A redução das provisões deve trazer resultados ainda melhores em 2018. Uma provisão quando revertida praticamente vira lucro”, aponta o professor e coordenador de graduação da Fundação Instituto de Administração (FIA), Rodolfo Olivo.

Na prática, esse recuo no provisionamento dos bancos só é possível com a queda dos calotes. “Houve uma redução da inadimplência e dos ativos problemáticos”, assegurou o diretor de fiscalização do BC.

Em sua apresentação, ele também destacou que já houve uma elevação do retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL ou ROE) em 2017. “[O retorno] aumentou em 2017 e está 4 pontos [percentuais] acima da taxa livre de risco. Em 2015, ficava em torno de 6 pontos [acima da taxa livre de risco]”, ressaltou Paulo Souza.

Nos dados do REF, o lucro líquido contábil dos bancos no ano passado recuperou a faixa de R$ 80 bilhões obtida em 2015. Na média, o sistema financeiro reportou 54,8% de seus ganhos em 2017, na forma de dividendos ou de juros sobre capital próprio (JCP), sendo que os bancos privados distribuíram 67% de seus resultados, e as instituições públicas, 28% do lucro líquido.

Concentração nos grandes

Por outro lado, os cinco principais bancos – Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander Brasil – totalizaram lucro líquido de R$ 70,1 bilhões no ano passado, cerca de 87% dos ganhos de todo o Sistema Financeiro Nacional.

Os quatro grandes bancos brasileiros, ou seja, excluindo o Santander, concentram 78,5% do crédito e 76,35% dos depósitos. “No mundo todo, o sistema bancário tende a ser concentrado, pois a atividade está muito ligada a ganhos de escala, mas no Brasil, tivemos muitas fusões e aquisições nos últimos 10 a 15 anos, com a saída de estrangeiros”, identificou o professor Rodolfo Olivo.

Na visão do professor de pós-graduação em finanças, investimento e banking da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Alfredo Meneguetti, essa concentração nos principais bancos nacionais só diminuiria se houvesse novamente a entrada de capital estrangeiro para o setor no País.

“O volume de empréstimos por fintechs e cooperativas de crédito é muito pequeno diante do volume das grandes instituições. O governo deveria facilitar a entrada de capital estrangeiro de bancos espanhóis e americanos, mas isto ainda é visto com muita restrição. É uma reserva de mercado”, avaliou Meneguetti.

A professora e coordenadora de cursos de administração e gestão financeira da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Luciana Maia Campos Machado, contou que o problema da concentração bancária no Brasil se acentuou depois da crise global de 2008.

“Houve uma fuga de depositantes para os maiores. As pequenas instituições tiveram problemas de funding [captação de recursos] e se viram obrigadas a vender suas carteiras de crédito. E tivemos várias fusões no pós-crise”, lembrou.

Na opinião dela, o Banco Central manteve o sistema sólido e seguro nesse processo. “Mas a consequência, pelo aspecto negativo, seria a formação de um oligopólio, o que poderia levar a um aumento dos preços dos serviços e a redução do crédito disponível”, aponta a professora Luciana.

Ela acredita que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá um papel importante no investimento em fintechs e na inovação. “Para que se não se prejudique o sistema bancário como um todo”, comentou.

O professor Alfredo Meneguetti lembrou que o tema da falta de competitividade no sistema financeiro é conhecido pelo governo e por organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, e daí a importância dos bancos públicos. “A Caixa Econômica deverá contribuir mais [para a competividade]. Nessa semana, anunciou uma redução dos juros para o financiamento imobiliário para 9% ao ano e a ampliação do volume de crédito”, completou.

Fonte: Jornal DCI