Governo intervém e licitação do BB é suspensa até conclusão de auditoria

Publicado em: 26/04/2017

O Banco do Brasil decidiu não homologar o resultado da licitação de publicidade, cujo nome da vencedora foi antecipado à Folha, até que uma auditoria interna apure indícios de direcionamento da concorrência.

Como o jornal mostrou na edição desta terça (25), o nome da primeira colocada, a agência Multi Solution, foi obtido pela reportagem quatro dias antes da abertura dos envelopes que oficializariam o resultado.

A informação é de que houve direcionamento na estatal para favorecer a empresa. O banco nega qualquer ação nesse sentido, assim como o presidente da agência, Pedro Queirolo. Essa é a maior licitação já disputada no governo Michel Temer.

A Multi Solution e outras duas empresas dividiriam um contrato de até R$ 500 milhões por um ano, prorrogável até o limite de 60 meses, totalizando mais R$ 2,5 bilhões, sem contabilizar eventuais reajustes.

O vazamento do resultado da licitação irritou o Palácio do Planalto, que enviou emissários ao BB para pedir uma solução rápida para o caso.
Destas conversas ficou acertado que o banco suspenderia o resultado da licitação até que o caso fosse elucidado. Há forte cobrança para que o certame seja anulado.

O BB, por sua vez, entrou em contato com o presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Raimundo Carreiro. Dentro da corte, o movimento foi visto como estratégico, já que havia entre os ministros quem defendesse uma intervenção no caso com o pedido de anulação da licitação, o que traria mais desgaste ao banco.

Antes mesmo da publicação da reportagem da Folha expondo o vazamento, o governo Temer havia estranhado o resultado porque a Multi Solution nunca teve contrato com o poder público e é vista como uma novata sem estrutura para tocar uma conta como a do Banco do Brasil.

Nesta terça, foi anunciado o resultado de outra licitação de agências de publicidade, desta vez da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), e a Multi Solution ficou com a última colocação (leia mais na pág. A5).

Integrantes do governo e especialistas ouvidos pela Folha apontaram fatos inusitados na pontuação obtida pela Multi Solution na concorrência do Banco do Brasil.

A agência obteve nota 13,08 de um total possível de 15 no quesito capacidade de atendimento, sendo que não possui um escritório em Brasília e conta com equipe enxuta em comparação com suas concorrentes.

Recebeu nota máxima, 10, no quesito repertório, deixando para trás nomes como a Lew Lara, que atende atualmente o banco.
Por meio de sua assessoria, o BB afirmou que “o processo de licitação para escolha das novas agências de publicidade não está finalizado e obedece a legislação”.

“A definição das classificadas seguiu critérios técnicos, conforme parâmetros previstos em edital público”, diz o texto. A instituição financeira afirma ainda que o resultado da auditoria interna “será determinante para a finalização da licitação”. “O BB não hesitará em adotar qualquer outro procedimento que julgar necessário.”

Na segunda-feira (24), o presidente da Multi Solution, Pedro Queirolo negou irregularidades. “De forma alguma [houve favorecimento].”
Queirolo disse ainda que, apesar de só ter clientes privados em seu portfólio viu “no novo momento que o país enfrenta uma oportunidade para desenvolver um trabalho sério e competente também no setor público”.

Leia abaixo a íntegra da nota do Banco do Brasil:

Em relação à reportagem publicada nesta terça-feira (25) sobre o processo de licitação para contratação de agências de publicidade, o Banco do Brasil esclarece que:

I – O processo de licitação para escolha das novas agências de publicidade não está finalizado e obedece rigorosamente a legislação. A definição das classificadas seguiu critérios técnicos, conforme parâmetros previstos em edital público.

II – Para que não pairem dúvidas, o Banco do Brasil, tão logo tomou conhecimento da reportagem, iniciou auditoria interna para apuração das notícias divulgadas, cujo resultado será determinante para finalização da licitação. O Banco do Brasil não hesitará em adotar qualquer outro procedimento que julgar necessário.

III- De forma transparente, nesta quarta-feira (26), o Banco do Brasil dará publicidade a todas as propostas técnicas que foram apresentadas na licitação, junto com as respectivas notas atribuídas pela comissão responsável pela avaliação, o que possibilitará a verificação de todo o processo por qualquer interessado.

IV – Além disso, o Banco do Brasil está à disposição dos órgãos de Controle, tendo já contatado o TCU (Tribunal de Contas da União) a fim de prestar esclarecimentos que aquela Corte julgue necessários.

 

Fonte: Folha de São Paulo

Escolha de agência de publicidade foi técnica, afirma BB

Publicado em:

SÃO PAULO – (Atualizada às 9h07) O Banco do Brasil (BB) afirmou que o processo de licitação para escolha de suas novas agências de publicidade obedeceu a legislação e foi pautado por critérios éticos.

Por meio da assessoria de imprensa, a instituição informou que vai publicar na quarta-feira todas as propostas técnicas que foram apresentadas na licitação para escolha de suas novas agências de publicidade, junto com as notas atribuídas pela comissão técnica responsável pela avaliação. De acordo com o posicionamento do BB, isso “possibilitará a verificação de todo o processo por qualquer interessado”.

Reportagem publicada nesta terça-feira pela “Folha de S.Paulo” aponta o vazamento do resultado da licitação antes da abertura dos envelopes, que foi realizada na manhã de segunda-feira.

O jornal obteve o nome da primeira colocada na disputa, a agência Multi Solution, na quinta-feira, e o registrou em cartório. No processo, foram classificadas mais duas agências, a Nova/sb e a Z+. As três vão dividir um contrato de R$ 500 milhões por 12 meses, prorrogáveis por até 60 meses.

“O Banco do Brasil informa que o processo de licitação para escolha das novas agências de publicidade obedeceu rigorosamente a legislação e a definição das vencedoras foi norteada por critérios técnicos, conforme parâmetros previstos em edital público”, afirmou a instituição por meio da assessoria de imprensa.

Na nota, o BB negou que tenha havido “qualquer tipo de embate entre agências de publicidade na audiência pública” realizada ontem para a abertura dos envelopes, rebatendo informação da “Folha” de que concorrentes pediram ontem uma recontagem dos votos, que alterou a classificação do segundo e do terceiro lugar na disputa.

“A audiência cumpriu com normalidade todos os procedimentos previstos em edital para apuração das empresas vencedoras da licitação, incluindo a abertura em sequência dos dois envelopes com as propostas técnicas que compõem a nota final de cada participante”, disse o BB.

Segundo a “Folha”, houve direcionamento no BB para favorecer a Multi Solution. A reportagem indicou que houve forte disputa entre pelo menos quatro agências para o segundo e o terceiro lugares, mas a Multi Solution nunca teve a liderança ameaçada.

O contrato do BB é a maior concorrência realizada no governo Michel Temer. A suposta fraude atinge o banco num momento em que sua diretoria, liderada por Paulo Caffarelli, tenta aproximar o BB das práticas de gestão e rentabilidade dos grandes concorrentes privados. A Multi Solution negou ter sido favorecida.

(Talita Moreira | Valor)