Gestão de Novaes no Banco do Brasil é investigada por irregularidades pelo MP

Publicado em: 02/10/2020

O Banco do Brasil (BBAS3) está sendo investigado pelo Ministério Público (MP) por atribuição à diversas irregularidades que teriam ocorrido na gestão do banco sob o comando de Rubem Novaes. A documentação foi entregue ao procurador Lucas Furtado, que protocolou nesta quarta-feira (30) a representação 034.145/2020-6.

A acusação feita ao Banco do Brasil é de interferir na sua auditoria interna, evitar apurações sobre assuntos sensíveis, não atender a recomendações dos auditores, além de interferir irregularmente em nomeações na Previ, o fundo de pensão do banco. A denúncia ocorreu após a CNN divulgar que o Conselho de Administração do banco dissolveu a sua auditoria interna sob a justificativa de que os auditores favoreceram servidores em um programa de demissão.

A investigação

O Ministério Público, ao mencionar trechos da documentação recebida sobre o processo de demissão dos auditores, revelou que “foram sobejamente evidenciadas as sucessivas violações ao processo disciplinar de regência do Banco do Brasil” e que “essas violações implicariam em obrigatório cancelamento da Ação Disciplinar, por assim definir a própria norma interna do Banco, mas Conselho de Administração do BB, de forma arbitrária e sem fundamento, decidiu ratificá-las, como se corretas fossem”.

O documento ainda revela que quando o auditor-geral foi afastado, “o Conselho de Administração ao invés de indicar interinamente um dos executivos da própria Auditoria, nomeou a então Secretária Executiva do Banco, diretamente subordinada ao Presidente do Banco, e que não possuía nenhuma experiência em auditoria”.

A nomeação afetou as apurações da auditoria. “No período dos oito meses do afastamento dos serviços, a Auditoria tem “andado de lado”, e os trabalhos mais sensíveis estão parados, entre eles a denúncia envolvendo a publicidade em sites que propagam “fake news” e a venda de créditos inadimplidos ao BTG Pactual. Sobre este último a Auditoria Interna havia iniciado avaliação do tema, mas sofreu intensa resistência e oposição da gestão do Banco do Brasil.” (…) “O Presidente do Conselho de Administração, Sr. Hélio Magalhães, “orientou” o então Auditor Geral, a não auditar os fatos e os riscos associados à retirada do ar da Campanha Publicitária “Selfie”, em 25/04/2019, pelo Presidente do BB, atendendo pedido do Presidente da República, mesmo havendo demandas externas para tanto (Tribunal de Contas da União, Comissão de Valores Mobiliários, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Senado Federal, Instituto Ethos) e evidências da referida interferência e comprovação das perdas financeiras causadas e de que os resultados daquela campanha eram muito positivos para os negócios e imagem do Banco.”

Além disso, foram relatados problemas no chamado Projeto Sirius, a associação entre o banco e a empresa UBS Group AG. ” Os trâmites da aprovação da parceria estratégica entre o BB BI e o UBS (Projeto Sirius) passaram por reuniões do Conselho Diretor e de Administração do Banco do Brasil entre junho e novembro de 2019. Numa dessas reuniões, a Auditoria Interna manifestou preocupação com aspectos formais (documentação, pareceres, avaliações externas) e negociais da parceria. Em contraponto, o Vice presidente Carlos Hamilton reagiu de forma estranha e desproporcional à manifestação apresentada, rechaçando de forma veemente e até agressiva qualquer possibilidade de deficiência formal e que era um excelente negócio para o Banco.”

Segundo a conclusão do procurador Lucas Furtado, “ao longo da peça diversas fragilidades do Banco são apontadas, das quais destaco as falhas na conciliação geral e contábil, as falhas na metodologia de provisões contábeis relacionadas a ações judiciais, as falhas em processos de desinvestimentos de ativos do Banco e a proibição de apuração pela auditoria interna de indícios de irregularidades acerca da propaganda com mote diversidade do Banco do Brasil”.

O gabinete do ministro do TCU Bruno Dantas, que é relator do caso, declarou que os pedidos do Ministério Público estão em processo de análise.

O Banco do Brasil se pronuncia

Em consequência, o Banco do Brasil se manifestou citando sua adequação às regras de transparência. “O Banco do Brasil possui uma estrutura de governança que conta com reconhecimento público e que está adequada às regras de transparência previstas por sua participação no Novo Mercado da B3”.

“O Banco do Brasil, até o presente momento, não teve qualquer conhecimento acerca dos fatos narrados e, caso venha a ser notificado, responderá a todos os termos.”, concluiu.

Os documentos foram divulgados pela CNN. A íntegra pode ser conferida abaixo:

Leia a íntegra da representacao do MP

Na representação, por exemplo, o Ministério Público relata trechos da documentação que lhe foi entregue. Sobre o processo de demissão dos auditores, diz que “foram sobejamente evidenciadas as sucessivas violações ao processo disciplinar de regência do Banco do Brasil” e que “essas violações implicariam em obrigatório cancelamento da Ação Disciplinar, por assim definir a própria norma interna do Banco, mas Conselho de Administração do BB, de forma arbitrária e sem fundamento, decidiu ratificá-las, como se corretas fossem”. Diz ainda que quando o auditor-geral foi afastado, “o Conselho de Administração ao invés de indicar interinamente um dos executivos da própria Auditoria, nomeou a então Secretária Executiva do Banco, diretamente subordinada ao Presidente do Banco, e que não possuía nenhuma experiência em auditoria”. Também menciona que a auditoria foi excluída das reuniões do Conselho de Administração, que passaram a participar de reuniões trimestrais com o colegiado.

As mudanças, segundo o documento, afetaram apurações da auditoria. “No período dos oito meses do afastamento dos serviços, a Auditoria tem “andado de lado”, e os trabalhos mais sensíveis estão parados, entre eles a denúncia envolvendo a publicidade em sites que propagam “fake news” e a venda de créditos inadimplidos ao BTG Pactual. Sobre este último a Auditoria Interna havia iniciado avaliação do tema, mas sofreu intensa resistência e oposição da gestão do Banco do Brasil.” (…) “O Presidente do Conselho de Administração, Sr. Hélio Magalhães, “orientou” o então Auditor Geral, a não auditar os fatos e os riscos associados à retirada do ar da Campanha Publicitária “Selfie”, em 25/04/2019, pelo Presidente do BB, atendendo pedido do Presidente da República, mesmo havendo demandas externas para tanto (Tribunal de Contas da União, Comissão de Valores Mobiliários, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Senado Federal, Instituto Ethos) e evidências da referida interferência e comprovação das perdas financeiras causadas e de que os resultados daquela campanha eram muito positivos para os negócios e imagem do Banco.”

Também declara que teria havido problemas no chamado Projeto Sirius, a associção entre o banco e a empresa suiça UBS Group AG. ” Os trâmites da aprovação da parceria estratégica entre o BB BI e o UBS (Projeto Sirius) passaram por reuniões do Conselho Diretor e de Administração do Banco do Brasil entre junho e novembro de 2019. Numa dessas reuniões, a Auditoria Interna manifestou preocupação com aspectos formais (documentação, pareceres, avaliações externas) e negociais da parceria. Em contraponto, o Vice presidente Carlos Hamilton reagiu de forma estranha e desproporcional à manifestação apresentada, rechaçando de forma veemente e até agressiva qualquer possibilidade de deficiência formal e que era um excelente negócio para o Banco.”

Segundo o documento, haveria problemas sobre “aspectos negociais” da parceria. “Sobre os aspectos formais não há evidências de deficiências, mas sobre os negociais, o parecer da Diretoria de Controladoria do Banco do Brasil, presente na Nota Técnica aprovada pelo Conselho de Administração, em 06/11/2019, registra que parte expressiva do resultado esperado decorria da expectativa de redução de pessoal, na ordem de 300 pessoas. Caso tal redução não acontecesse, os resultados seriam negativos para o Banco em até R$170 milhões. Não há evidências de que ajustes organizacionais e redução de pessoal tenham sido realizados.”

A representação menciona ainda supostas irregularidades na nomeação de conselheiros da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do banco. “O Presidente Rubem Novaes e o Vice-presidente Carlos Hamilton interferiram irregularmente no processo de seleção de conselheiros da PREVI para as empresas as quais tem participação, a exemplo da Vale. Sob a alegação de ter profissionais de mercado nos conselhos, impuseram reabertura e alterações no processo de seleção para dar oportunidade de indicação de pessoas alinhadas com suas estratégias pouco republicanas que querem implementar, em detrimento àqueles que já haviam sido selecionados e aos objetivos e responsabilidades da PREVI.”

O procurador Lucas Furtado conclui que “ao longo da peça diversas fragilidades do Banco são apontadas, das quais destaco as falhas na conciliação geral e contábil, as falhas na metodologia de provisões contábeis relacionadas a ações judiciais, as falhas em processos de desinvestimentos de ativos do Banco e a proibição de apuração pela auditoria interna de indícios de irregularidades acerca da propaganda com mote diversidade do Banco do Brasil”.

A representação, bem como a documentação que a embasa, foi encaminhada à área técnica do banco. O ministro Bruno Dantas é o relator do caso.

Procurado, o gabinete do ministro do TCU Bruno Dantas, que é relator do caso, informou que os pedidos do MP estão em análise.

Fontes: Portal Suno Research com CNN Brasil

Mediação do Ministério Público sobre impactos da reestruturação do BB encerra sem registrar avanços

Publicado em: 27/07/2017

Na última quinta-feira (20), representantes dos trabalhadores e do Banco do Brasil tiveram a sexta e última audiência na sede da Procuradoria Geral do Trabalho, em Brasília (DF) para tratar da reestruturação em curso no banco. A audiência encerrou novamente sem avanços. A representante da Federação dos Bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul na Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (FEEB-SP/MS), Maria do Carmo Peggau acompanhou a negociação.

Os assuntos abordados foram os itens que ficaram pendentes da última audiência: apresentação de resposta do BB quanto à inclusão das comissões retiradas para fins do programa de adiantamento salarial; apresentação de resposta quanto ao prazo de carência para início do pagamento das parcelas do adiantamento salarial; apresentação de resposta quanto a inclusão do endividamento do trabalhador em função de Consórcio assumido no rol das dívidas do trabalhador, para fins de recebimento do benefício de adiantamento salarial; apresentação de resposta do BB quanto a possibilidade de o adiantamento salarial ser concedido pela instituição independentemente de haver dívida do trabalhador com o banco; resposta definitiva quanto ao pagamento do VCP dos caixas, ou pelo prazo de 12 meses para os executivos que tiveram perdas, apresentação do BB de informações atualizadas sobre as visitas realizadas às agências durante o mês de julho e sobre realocações dos funcionários.

Para os temas: Inclusão das comissões retiradas para fins do programa de adiantamento salarial; prazo de carência para início do pagamento das parcelas do adiantamento salarial; inclusão do endividamento do trabalhador em função de Consórcio assumido no rol das dívidas do trabalhador, para fins de recebimento do benefício de adiantamento salarial e possibilidade o adiantamento salarial ser concedido pela instituição (independentemente de haver dívida do trabalhador com o banco); A resposta do BB foi de que não havia novidades a informar e de que o programa permaneceria nos moldes implantados.

Já, com relação à prorrogação da Vantagem em Caráter Pessoal (VCP), o banco informou que não haverá prorrogação.
O BB comunicou também que irá conceder benefícios aos trabalhadores que se inscreverem para vagas de difícil provimento. Ministério Público do Trabalho (MPT) e movimento sindical concordaram se tratar de uma situação que atende somente aos interesses do banco, uma vez que as vagas são destinadas aos escriturários e não aos bancários atingidos pela reestruturação.

Visitas realizadas às agências

Na audiência de junho, o Banco do Brasil se comprometeu a visitar 35 agências em todo o país durante o mês de julho, para entender como está ocorrendo o processo de reestruturação e o impacto nessas agências, porém, o representante do banco informou que as visitas ocorreram somente em 08 unidades, impossibilitando que houvesse uma avaliação conclusiva que pudesse resultar em aumento de cargos e dotação. O banco afirmou, contudo, que estão programadas mais 25 visitas até o final de agosto.

O BB informou também, que no inicio do processo de reestruturação foram extinguidas aproximadamente 9 mil funções, cerca de seis mil trabalhadores foram atingidos perdendo suas funções e não se aposentaram ou se desligaram, permanecendo hoje 2.300 trabalhadores descomissionados. Ainda de acordo com o banco, existem atualmente cerca 1.300 vagas com comissão abertas, porém, não significa que mais 1.300 trabalhadores serão realocados, uma vez que o trabalhador pode não ter interesse na vaga. No que diz respeito aos caixas, o número é de 202 vagas em aberto e ressaltou que o TAO Especial (Talentos e Oportunidades) continua aberto, sem previsão de encerramento.
Representantes dos trabalhadores relataram a existência de inúmeros casos nos quais houve aberturas e vagas e não foi priorizado o trabalhador em VCP.

Durante a audiência foi colhida uma lista contendo nomes e cargos de trabalhadores nomeados em detrimento dos que recebem VCP. O banco ficou de analisar e responder caso a caso ao MPT.

A audiência foi encerrada e o processo será arquivado após a resposta do BB referente às nomeações.

Fonte: Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul