Previ abre o seu “caderno de notas” ASGI para entidades de previdência privada

Publicado em: 01/11/2024

A Previ e a Abrapp, a associação das entidades fechadas de previdência complementar, firmaram um convênio para ampliar a adesão e a adoção do rating ASGI no setor. Criado pelo maior fundo de pensão do Brasil, que detém cerca de R$ 260 bilhões sob gestão, a classificação vai ajudar entidades menores a analisar investimentos sob o aspecto ambiental, social, de governança e de integridade.

A proposta é que o rating criado e usado pela Previ ganhe algumas adaptações necessárias para atender o setor como um todo e seja disponibilizado para as fundações associadas à Abrapp – hoje 233, que somam cerca de R$ 1,2 trilhão sob gestão.

“Precisávamos ampliar essa discussão e acreditamos que compartilhar o nosso balizador com entidades menores, que não podem fazer o mesmo estudo é fundamental”, afirma João Luiz Fukunaga, presidente da Previ, em entrevista ao NeoFeed.

Conforme o NeoFeed revelou com exclusividade em outubro do ano passado, a ideia da Previ era criar um selo ASGI, mas houve questionamentos sobre a validade de a fundação passar a ser uma certificadora e um modelo para os demais fundos de pensão sem adaptações.

Com o rating, o público em geral não terá acesso às classificações. Somente as associadas à Abrapp poderão acessar um site restrito – que está em fase final de criação – onde estarão os ratings das empresas já avaliadas pela Previ.

“Estamos evoluindo ainda como sociedade em diretrizes sustentáveis para investimentos. Neste primeiro momento, queremos essa discussão dentro das fundações, que estão comprometidas com investimento de longo prazo e que por definição devem levar em conta essas questões”, diz Marcio Antonio Chiumento, diretor de participações da Previ.

A análise da Previ gera uma nota de 0 a 100 para cada empresa – quanto mais alta, melhor o indicador. E essa nota gera um rating de AAA ao D ou F no caso de não ser possível nem mesmo dar uma nota. O mecanismo é similar ao das agências de classificação de risco nas notas soberanas.

Atualmente, há 88 empresas com nota ASGI pela Previ, entre listadas na bolsa de valores ou não. Nenhuma recebeu classificação AAA ou AA. Apenas nove são A, 37 são BBB; 21 são BB; e 13 são B, e o restante tem notas menores.

Na média, o pior tema de cobertura das 88 empresas analisadas pela Previ é o social, com apenas 45% de aderência aos critérios, seguido pelo ambiental (58%), integridade (77%) e governança (84%).

A Previ deu detalhes ao NeoFeed do que é levado em consideração na análise e sua metodologia. Há um questionário com cerca de 200 perguntas, a depender do setor da empresa, que foi elaborado com base no Conselho de Padrões Contábeis de Sustentabilidade (SASB), e na metodologia de sustentabilidade da empresa americana MSCI.

O preenchimento é feito por analistas com base em informações públicas. Inclusive, a transparência e acessibilidade aos dados é um item que é fortemente avaliado.

São 29 temas que são abordados, sendo 12 ambientais, com questões como exploração de oportunidades em tecnologias limpas, energias renováveis e green building, pegada de carbono nos produtos, emissões de gases de efeito estufa e poluição por emissões tóxicas e de resíduos.

As questões sociais são abordadas em 11 temas, como oportunidade de inclusão financeira, relação com trabalhadores, saúde e segurança dos stakeholders. Já a governança é avaliada nos temas: composição do conselho de administração, política de remuneração dos funcionários, composição acionária e transparência de dados contábeis.

E a Previ analisa também a integridade das empresas, por meio da ética nos negócios. Esse é um item que avalia as políticas da empresa para lidar com conflitos de interesse, a existência e a usabilidade de canais de denúncia e o código de ética entre outras coisas.

Utilizado pela Previ desde 2021, em um trabalho que vem evoluindo desde 2007, o rating é um balizador nos seus critérios de investimento da entidade. Porém, não é um modelo de exclusão. Ele ajuda a avaliar os processos e avanços que as empresas estão buscando.

Isso significa que uma empresa com uma avaliação ASGI ruim pode ser investida pela Previ se mostrar que está progredindo.

“Queremos trazer a discussão à tona e engajar outras fundações a utilizarem esses critérios em seus investimentos. Assim, as empresas podem ir melhorando as suas formas de atuação. ASGI lá fora é coisa séria, e é fomentando isso que teremos regulação voltada a questão”, afirma Fukunaga.

Fonte: Neofeed

Previ reduz participação de renda variável na carteira e busca rota sustentável

Publicado em: 09/08/2024

Em meio aos questionamentos do mercado sobre a validade de a Previ ser uma certificadora de investimentos ambientais, sociais e de governança corporativa e integridade (ASGI), o maior fundo de pensão do Brasil, com cerca de R$ 250 bilhões sob gestão, avança nessa agenda com a chegada de uma nova liderança.

Marcio Antonio Chiumento foi indicado pelo Banco do Brasil, patrocinador do fundo de pensão, para ser o novo diretor de participações e substituir Fernando Melgarejo, que está deixando a entidade para ser diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras.

“Vemos que há grande interesse do setor em seguir ASGI, mas nem todos têm a estrutura que a Previ tem e o histórico. Entendemos que temos o dever de contribuir”, afirma Chiumento ao NeoFeed, em sua primeira entrevista no novo cargo.

Desde que o NeoFeed contou com exclusividade que um dos grandes projetos da fundação era a criação de um selo ASGI para as empresas com a Previc, houve questionamentos sobre a validade de a fundação passar a ser uma certificadora e um modelo para os demais fundos de pensão.

Em razão disso, a fundação está aparando as arestas para lançá-lo. A Previ estaria repensando se apenas o seu modelo interno seria o parâmetro de certificação ou seria necessário agregar um olhar mais abrangente para o mercado. Mas o objetivo é que essas questões sejam resolvidas para lançar o selo até o fim deste ano.

A estratégia de foco de investimento ASGI ocorre em paralelo à redução da renda variável no portfólio, principalmente no plano 1 (o principal), que está em processo de compra de títulos públicos para imunizar a carteira e honrar o R$ 1,4 bilhão por mês em pagamentos de pensões. Segundo dados da fundação, hoje a exposição à renda variável está em 30%, três pontos percentuais a menos na comparação à carteira do fim de 2023.

Na quarta-feira, 7 de agosto, o presidente da Previ, João Fukunaga afirmou na abertura da 2ª edição do Seminário de Investimentos, Governança e Aspectos Jurídicos da Previdência Complementar, o SIGA, um evento realizado por Previ, Fapes, Funcef, Petros, Postalis e Valia com o apoio de Abrapp, Anapar, Livelo e Previc, que a fundação alocou cerca de R$ 11 bilhões em NTN-Bs a uma taxa média de IPCA+5,9% nesse primeiro semestre aproveitando oportunidades de desinvestimento em renda variável.

O foco dos desinvestimentos estão nos papéis considerados menos rentáveis e também menos alinhados aos critérios ASGI. No entanto, é preciso priorizar os melhores momentos de saída para extrair o retorno dos investimentos. Segundo a fundação, ao longo do ano foram capturadas essas oportunidades e outras estão sendo avaliadas.

Institucionalmente, a Previ deu um incentivo neste ano para cumprir essa agenda. Foi adicionado às metas corporativas dos funcionários a melhoria do rating médio ponderado do portfólio.

“Já tínhamos essa premissa como direcionador no planejamento estratégico, mas ao colocar como meta individual dos executivos nós simplesmente estamos fazendo o que pedimos para as empresas fazerem, para criar incentivos de alinhamento”, diz Chiumento, que estava à frente da Unidade Estratégia Governo (UEG) do Banco do Brasil desde abril de 2023, uma área que conta com aproximadamente R$ 1 trilhão sob administração. Ele também é presidente do conselho de administração da BB Previdência.

Mas a batalha da fundação é por dados corretos e acessíveis para analisar da melhor forma os indicadores. Segundo a entidade, a transparência dos dados tem sido um critério essencial na análise das empresas, com faltas nesse sentido sendo mais punidas que a falta de evolução dos dados da companhia.

A Previ tem advogado aos reguladores e autorreguladores que é necessário que haja um padrão na divulgação de informações. Para isso, está contribuindo com a CVM para a regulação que prevê a padronização do report ASG.

A fundação é costumeiramente questionada por empresas relevantes no portfólio estarem em setores considerados mais nocivos ao meio ambiente, como Vale, Petrobras e Vibra. A fundação responde que algumas posições são históricas e que há acima de tudo um dever fiduciário em entregar a melhor rentabilidade para os participantes.

Mas que diversas dessas empresas têm trazido uma renovação de suas fontes de receita em prol de negócios mais sustentáveis no futuro. E se há alguma “tese de investimento” perseguida pela fundação é a transição energética.

A distribuidora de combustível Vibra, do qual a Previ saltou de 3% de participação para 7%, é um case de virada de chave do portfólio, com a compra da empresa de energia Comerc e da EZVolt, startup de eletromobilidade que integra seu portfólio de projetos em energias renováveis.

Como também são a empresa de maquinário Tupy, que está entrando em projetos de biobetano, e a Neoenergia, que vem ampliando o portfólio em energias renováveis.

Fonte: Neofeed