De acordo com a diretoria do Banco do Brasil, as medidas de reestruturação apresentadas na segunda-feira (11) são uma adequação do BB para o novo contexto da indústria financeira. Contudo, essa não é a opinião de alguns economistas e dos funcionários do Banco Público.
Para justificar a mudança de tipo de atendimento e extinção de quase 800 agências e pontos de atendimento, a empresa utilizou os movimentos da concorrência – principalmente Santander e Bradesco, que fizeram grandes demissões durante a pandemia.
Entretanto, ao utilizar somente indicadores de mercado, o BB deixou de lado uma parte fundamental da sua ação e história: a sua função social, que deve ser cumprida por se tratar de um Banco Público, ainda que de economia mista.
O economista e diretor do Reconta Aí, Sérgio Mendonça, reforça que o Banco do Brasil é uma das empresas públicas mais importantes do País. “Sua história se confunde com a história do Brasil e da formação do Estado brasileiro”. No mesmo sentido, o economista acrescenta: “Talvez tenha sido o maior formador de quadros para a administração pública”.
Grave perda para o desenvolvimento nacional
Contudo, os funcionários do BB não prestam serviços apenas na administração pública. Ainda como servidores do banco, eles são responsáveis por uma série de ações que não só atendem aos consumidores, mas também ao País.
É o caso da expertise em crédito rural, que é disponibilizado para o agricultor familiar via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e para a agroindústria. Com um diferencial muito importante em relação à concorrência privada, o BB chega a todo o território nacional. No mesmo sentido, o Banco do Brasil também possui expertise em microcrédito, entre outros produtos que atendem à população de baixa renda. Além disso, é preciso lembrar também do seu papel como braço do governo para implementação de políticas públicas no âmbito da economia.
Levando toda essa carga de responsabilidade do BB, Sérgio Mendonça afirma: “Em um momento de enorme desafio, durante e após a pandemia da Covid-19, ao contrário do proposto pela direção do banco, é o caso de fortalecer a instituição e não enfraquecê-la”, disse. “Garantir a presença em todo o território nacional é algo que só os bancos públicos como o BB, a Caixa e os demais bancos públicos conseguem”, enfatiza o economista.
Como reerguer uma economia com o encolhimento das ferramentas do Estado?
Inteligência artificial, uso de robôs para atendimento digital entre outras medidas, são necessidades para um novo tempo. Entretanto, não substituem agências e funcionários. Infelizmente, 30% dos brasileiros ainda não têm acesso à internet e cerca de 11 milhões são analfabetos. Logo, a exclusão digital ainda é uma realidade que estatais e empresas públicas ainda precisam ser levadas em conta.
Nesse sentido, Mendonça relembra que Bancos Públicos devem “apoiar os setores que necessitarão fortemente da atuação estatal e dos bancos públicos para a retomada econômica pós-crise”. Dentre eles, de acordo com o economista, destacam-se agricultura familiar, o agronegócio, as micro, pequenas e médias empresas e a habitação popular, entre outros. Sob o mesmo ponto de vista, Mendonça projeta que somente o Banco do Brasil e os demais Bancos Públicos “farão isso nesse momento desafiador”.