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Lucro dos grandes bancos deve crescer para R$ 28,4 bilhões no 3º trimestre

Publicado em: 29/10/2024

Os grandes bancos brasileiros deverão ter um resultado positivo no terceiro trimestre, ainda sem impacto de fatores que começam a despontar no horizonte. Embora a situação atual ainda seja bastante tranquila, com crédito crescendo em ritmo forte e inadimplência estável, a perspectiva vem se tornando mais incerta nas últimas semanas. Adiante estarão o efeito do novo ciclo de alta de juros – que deverá afetar sobretudo o segmento de pequenas e médias empresas (PMEs), em que os bancos vinham mostrando mais apetite -, um possível aumento no nível de calotes e a desaceleração do PIB prevista para o próximo ano.

Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander deverão apresentar um lucro consolidado de R$ 28,428 bilhões de julho a setembro, de acordo com a média de oito casas coletada pelo Valor. Isso representa alta de 3,1% no trimestre e de 13,1% em um ano. A temporada começa no dia 29, com Santander, que deve continuar mostrando uma recuperação nos resultados, assim como Bradesco. Itaú tende a seguir registrando recordes, mas BB, que vinha páreo a páreo com o rival privado, deve ficar um pouco para trás. O banco público tem sido mais afetado pelas dificuldades do agronegócio.

Para Carlos Daltozo, diretor de research da consultoria Eleven, o cenário atual para os bancos reflete uma combinação de fatores, tanto de oferta quanto de demanda. Enquanto o desempenho do crédito tem sido melhor do que o esperado, o atual ciclo de aumento da Selic não era previsto no início do ano. De qualquer forma, ele aponta que os bancos entram nesse novo ciclo de aperto monetário mais “leves”, ou seja, com carteiras mais saudáveis, já que fizeram um movimento de redução de risco nos últimos trimestres. “No ciclo anterior [2021 e 2022] os bancos estavam vivendo um momento de alta da inadimplência, mas desta vez eles estão muito mais leves. A questão é como vão se comportar agora com essa alta de juros.”

Na visão dos analistas do Bank of America, o momento é de lucros robustos para os bancos, mas com alguns sinais de alerta. Enquanto a margem com clientes deve continuar crescendo em um bom ritmo e a inadimplência tende a permanecer estável, o cenário de juros mais elevado pode afetar a margem com mercado, o índice de calotes pode subir no segmento rural e será preciso avaliar o apetite dos bancos em meio a um cenário macroeconômico mais incerto.

“Os mercados de capitais devem refletir condições adversas; o segmento de pagamentos terá crescimento sólido de TPV [volumes processados]; e nas seguradoras os índices de sinistralidade devem ficar estáveis”, resume o BofA. A XP tem uma visão semelhante, embora um pouco mais otimista. “No geral, esperamos um conjunto de resultados sólidos para os bancos. Como resultado de uma originação sólida e de um mix mais favorável, estimamos melhorias na margem com cliente, enquanto a margem com mercado pode apresentar volatilidade devido às novas expectativas de taxas de juros.”

Conforme o Valor mostrou na semana passada, a inadimplência em pessoa física, com recursos livres, segue acima dos níveis pré-pandemia. Os dados indicam que isso pode ser reflexo do aumento da fatia da baixa renda na carteira de crédito dos bancos e de mudanças no mix desse portfólio, com presença maior do cartão de crédito, considerada uma linha mais arriscada. Em estudo recente, o Itaú BBA aponta que o impacto de alterações na Selic costuma acontecer com uma defasagem de seis meses. E que o atual ciclo de alta levaria a uma inadimplência entre 0,5 e 1,0 ponto percentual maior ao fim de 2025, partindo de 7,0% agora nesse segmento.

Um ponto que pode chamar atenção nos balanços é o eventual impacto na inadimplência dos gastos de consumidores com apostas esportivas, as “bets”. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chegou a indicar que há sinais iniciais de impacto, especialmente na baixa renda, e o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, foi bastante vocal sobre a necessidade de se bloquear o uso do cartão de crédito nessas apostas. Um estudo divulgado pelo BC afirmou que as bets receberam R$ 3 bilhões de beneficiários do Bolsa Família em agosto, mas depois a validade dos dados foi questionada.

O Santander CIB chegou a fazer um estudo para analisar potenciais impactos das bets, sobretudo para o Nubank, que tem clientes de renda mais baixa e que usam muito o cartão. “Nós acreditamos que o risco é que parte material do Pix crédito esteja relacionado às apostas, o que resultaria em um risco de crédito extremamente elevado”, disseram os analistas. Na sequência, o Nubank revelou mais detalhes e rebateu essa tese. O banco afirmou que acompanha de perto seus modelos de crédito para garantir que permaneçam bem calibrados diante do crescimento das apostas on-line. “Registramos menos de 1% do nosso volume financeiro de Pix e Pix Parcelado sendo destinado às maiores empresas do setor.”

No crédito corporativo, os analistas dizem que há novos casos de empresas com problemas, como Agrogalaxy, por exemplo, mas que eles não devem ter impacto significativo nos resultados dos bancos. Há também a possibilidade de que alguns bancos revertam parte das provisões feitas para Americanas, após a implementação do plano de recuperação da companhia, que contou com desconto nas dívidas e aporte dos acionistas. Entretanto, esse não é um consenso nos relatórios do “sell-side”.

O Santander, que abre a temporada de balanços, deve ter lucro de R$ 3,473 bilhões no terceiro trimestre, com a maior alta anual, de 27,3%. Para os analistas da Genial, a trajetória de melhora na rentabilidade deve continuar, mas de forma mais gradual. Para eles, no crédito, o banco deve priorizar rentabilidade, em detrimento de crescimento. “Esperamos uma dinâmica mais arrefecida nas carteiras de atacado e consignado, que juntas representam aproximadamente 40% da carteira total, devido à pressão do teto de taxa no consignado e ao aumento da concorrência no segmento de atacado.”

Bradesco, com lucro de R$ 5,219 bilhões, terá o maior crescimento trimestral, de 8,5%. Na avaliação do Goldman Sachs, o retorno sobre o patrimônio deve subir 0,8 ponto percentual, para 12,6%. “Os resultados devem ser positivamente impactados pela forte margem financeira e a contribuição do setor de seguros no trimestre, enquanto as despesas operacionais devem permanecer sob controle.”

O grande foco da temporada deve estar no BB, que pode sofrer com o agronegócio. Quando foi feita a divulgação dos resultados do segundo trimestre, o banco avaliou que, com a entrada do novo Plano Safra, a inadimplência no setor tenderia a melhorar. Mas, no mês passado, o vice-presidente financeiro, Geovanne Tobias, admitiu que esse processo está um pouco mais demorado do que o esperado. “Essa regularização está mais lenta, houve um atraso na janela hidrológica, temos uma seca histórica. Temos feito um esforço de regularização, mas é fato que o agro está trazendo hoje uma inadimplência maior do que vimos nos últimos anos.” Com um lucro de R$ 9,470 bilhões, o BB deve ter a única queda no trimestre, de 0,4%.

Já o Itaú deve ter novos números inéditos de lucro, com R$ 10,423 bilhões. Nesse caso, o foco dos investidores é se haverá um anúncio de dividendo extraordinário, que o banco já indicou que deve acontecer em algum momento. Nesta semana, informou que exercerá a opção de resgate das notas subordinadas Nível 2 emitidas em 2019, no valor de US$ 750 milhões. O impacto no capital deve ser de 0,3 ponto percentual. “Esperamos mais um trimestre de resultados sólidos, com lucro líquido recorrente aumentando 15% em um ano, apoiado por sólida geração de receitas, despesas controladas e qualidade estável de ativos. […] Mantemos nossa recomendação de ‘compra’, uma vez que a rentabilidade, o capital e as capacidades de execução acima dos seus pares justificam uma avaliação premium”, diz o BofA.

Fonte: Valor Econômico

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