Deputados e senadores enfatizaram a importância das instituições financeiras públicas na economia do Brasil, em especial pelas políticas de crédito na área da habitação, educação e agrícola
São Paulo – Com a participação de entidades do setor bancário e da sociedade civil, deputados e senadores de diversos partidos lançaram nesta terça-feira (13), em Brasília, a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos. A mobilização tem o objetivo de evidenciar e combater o desmonte das instituições financeiras públicas promovido pelo governo de Michel Temer e destacar sua importância para a soberania nacional e o desenvolvimento econômico e social do país.
“A verdade é que não há saída para a crise econômica sem investimento público e estamos indo no sentido contrário. O que esse governo quer é a dependência total do capital estrangeiro”, afirmou o senador Roberto Requião (PMDB-PR) durante o lançamento da frente parlamentar. Ao reforçar a importância da greve geral indicada para o próximo dia 30, Requião enfatizou a necessidade da população em ir às ruas para impedir o sucateamento dos bancos públicos e a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista.
Durante o ato, deputados, senadores e representantes da sociedade civil destacaram o papel dessas instituições públicas no exercício da soberania nacional, ao financiar principalmente investimentos em educação, agricultura e habitação. Segundo o deputado Assis Carvalho (PT-PI), cerca de 25% dos imóveis comprados no Brasil são adquiridos por meio de crédito concedido por instituições públicas.
“São os bancos públicos que garantem financiamento com juros compatíveis, com crédito adequado para se investir”, explicou o deputado José Carlos Nunes Júnior (PT-MA), dando como exemplo a concessão de crédito agrícola tanto para o agronegócio quanto para a agricultura familiar. De acordo com o parlamentar, o processo de desmonte da Caixa Econômica Federal, BNDES e Banco do Brasil – este último que, segundo relatório divulgado em maio, já fechou 551 agências e cortou cerca de 10 mil postos de trabalho –, está inserido no “tsunami” causado pelo governo Temer. “Estamos tendo um ‘tsunami’ nas instituições públicas, o ‘tsunami’ da reforma trabalhista, da reforma previdenciária, da venda do pré-sal, da venda de terras para estrangeiros, da precarização do trabalho, do fim do Conselho das Cidades”, listou Nunes Júnior.
Durante o ato, o senador José Pimentel (PT-CE) lembrou que a tentativa de sucatear os bancos públicos para depois vendê-los não é novidade, e o mesmo já ocorreu durante os anos de 1990. “Essa agenda conhecemos muito bem. Os bancos privados historicamente não investem na nossa economia, eles só investem em negócios que têm lucro rápido e risco zero, e então são os bancos públicos que cumprem esse papel”, afirmou.
Para a senadora Lídice da Mata (PSB-BA), a frente lançada hoje será fundamental para unir as forças que defendem as instituições. “Essa Frente reúne deputados, senadores, bancários, trabalhadores do campo e da cidade na busca pela recuperação de um projeto de desenvolvimento para o país.”
Soberania nacional
Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Jair Pedro Ferreira, é preciso agora “replicar” o ato nos estados e municípios para explicar à população as consequências do sucateamento e assim conquistar “corações e mentes”. “Sem os bancos públicos e a importância que eles têm na economia, não vamos conseguir fazer frente à recuperação do país. Estamos vendo a delapidação do patrimônio público, em especial os bancos públicos, que têm papel importante principalmente para a população de baixa renda.”
Já o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Roberto von der Osten, destacou a importância das instituições públicas no contexto da soberania nacional, por serem uma ferramenta de crédito capaz de levar desenvolvimento aos lugares mais necessitados do país. “Os bancos públicos existem para corrigir as distorções dos bancos privados, especialmente na área de crédito”, afirmou, enfatizando o financiamento da casa própria, da agricultura e de outros setores da economia.
Mais cedo, antes do lançamento da frente, houve o seminário “Estratégias para financiar o desenvolvimento”, ocasião em que a vice-presidenta da Contraf-CUT e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, mostrou que as instituições públicas são importantes para toda a população brasileira, especialmente os mais pobres.
“Não dá para falar de desenvolvimento sem crédito. E sem crédito não há emprego. Precisamos de bancos públicos para manter essa oferta de crédito que sempre fomentou a economia em momentos importantes, e não vemos isso atualmente. O atual governo tem feito o desmonte dos bancos públicos com reestruturações e retirada da oferta de crédito. Não é uma questão corporativa a manutenção dos bancos públicos, porque vai impactar o Brasil com menos crédito e financiamentos sem privilegiar programas como o Fies e financiamento imobiliários para os mais pobres”, afirmou.
Juvandia também citou o papel dos bancos públicos regionais para o desenvolvimento local com o financiamento de agricultores familiares e pequenos empreendedores. “Essas pessoas não teriam condição de obter crédito porque os bancos privados oferecem financiamentos com juros altos. As atuais opções políticas de governo são ultraliberais. Vemos o perdão de dívidas de bancos privados, como a que aconteceu no Itaú, mas não capitalizam a Caixa Econômica para que ela possa oferecer crédito.”
Confira aqui a cartilha sobre a importância dos bancos públicos publicada pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região.