Os maiores bancos do Brasil têm tantos ativos de alta liquidez que estão tentando se livrar deles.
Com crédito levando mais tempo do que o esperado para se recuperar, as principais instituições financeiras estão lutando para encontrar maneiras de aplicar os depósitos que captam de clientes, o que tem elevado o caixa e os ativos mais líquidos das instituições financeiras. Ao mesmo tempo, a queda acentuada dos juros limitou o retorno dos bancos com o investimento de seus ativos de maior liquidez. É uma situação que tem inquietado alguns analistas.
“A maior preocupação com o excesso de liquidez seria o impacto potencial nas margens”, afirmou Tito Labarta, analista do Deutsche Bank. “No passado, com taxas de juros mais elevadas, você simplesmente investia em títulos do governo e tinha um retorno bastante decente. Mas agora, isso é mais difícil com as taxas de juros caindo.”
Os maiores bancos brasileiros têm muito mais do que o percentual mínimo exigido em ativos de curto prazo — chegando a até três vezes mais do que o necessário. O Banco Central determina que grandes instituições financeiras mantenham ativos de alta liquidez equivalentes a pelos menos 80 por cento da saída líquida de caixa projetada em uma eventual crise. O índice mínimo de liquidez de curto prazo (LCR, em inglês) vai ser ampliado para 90 por cento em 2018 e 100 por cento em 2019.
Cobertura
Atualmente, o LCR do Banco do Brasil, maior do País em ativos, é mais que o triplo do que precisaria ser, em 260,2 por cento. E isso após recuar de um patamar de 443,5 por cento no ano passado, diante não da redução dos ativos líquidos, mas sim das exigências maiores do BC para saídas de caixa em cenários de estresse.
O Itaú Unibanco Holding, o maior em valor de mercado, trabalha com LCR de 200,7 por cento; o Banco Bradesco, com 154,4 por cento; e o Banco Santander Brasil, com 133 por cento.
Para diminuir parte dessa liquidez de curto prazo, seria preciso que o crédito crescesse, mas essa variável não acompanhou a recuperação da economia brasileira. A carteira total de empréstimos no sistema bancário encolheu 1,4 por cento nos 12 meses até outubro para R$ 3,05 trilhões, de acordo com dados do BC.
“Esta é uma das razões pelas quais os bancos estão abrindo suas plataformas, permitindo que os clientes comprem investimentos financeiros de outras instituições: a liquidez de curto prazo excedente”, afirmou Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs Group, acrescentando que a demanda por crédito segue fraca e que os bancos ainda estão conservadores na hora de conceder empréstimos.
Uso dos recursos
Para não deixar dinheiro parado, os bancos estão recomprando ações ou fazendo aquisições, disse Macedo. Segundo ele, ao longo dos últimos dois anos, o Itaú recomprou aproximadamente R$ 1 bilhão em ações todo trimestre. Além disso, o banco anunciou há pouco mais de um ano a compra da operação de varejo do Citigroup no Brasil e em maio anunciou a aquisição da XP Investimentos.
O Bradesco recebeu sinal verde das autoridades para comprar a divisão local do HSBC Holdings em meados do ano passado. Macedo espera recuperação plena do crédito em 2019, após um aumento modesto no ano que vem. Segundo ele, os bancos precisarão continuar cortando custos para manter a lucratividade nos níveis atuais, inclusive fechando agências e investindo em tecnologias que produzam economias de longo prazo.
“Com a Selic caindo, margens menores no ano que vem estão praticamente telegrafadas”, disse Macedo. “A questão é quanto elas vão diminuir.”
Fonte: Exame