O maior acesso à tecnologia facilitou a vida dos usuários de serviços bancários ao mesmo tempo em que reduziu o número de agências físicas e de postos de trabalho nos bancos brasileiros. A presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, Eliana Brasil, conta que, hoje, o país tem cerca de 450 mil bancários. “O emprego no setor vem se reduzindo ano a ano. Além da tecnologia mais acessível, outras empresas passaram a fazer serviços bancários, como é o caso das lotéricas e fintechs”, diz.
Nas contas de Eliana, os cortes atingiram perto de 40% dos postos de trabalho em quase 30 anos. Quem frequenta os bancos físicos percebe a mudança na quantidade de bancários no atendimento. Antes, eram muitos caixas. “O primeiro impacto (no mercado de trabalho) foi com o autoatendimento. Depois, com a internet e os celulares”, analisa ela.
Em 1990, eram 732 mil bancários no país, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em 2018, o setor tinha 450 mil trabalhadores diretos (excluindo-se terceirizados), um corte de 282 mil vagas em 28 anos.
Somente no ano passado, Bradesco, Itaú e Caixa, juntos, fecharam 212 agências bancárias no país, segundo informação da 15ª edição do estudo “Desempenho dos Bancos”, produzido pelo Dieese. Banco do Brasil e Santander, por sua vez, apresentaram saldos positivos, com 76 e 28 unidades abertas no ano, respectivamente, totalizando 104 novas agências. No total dos cinco bancos, 108 agências deixaram de existir.
Bancos públicos respondem por 64% das vagas eliminadas
De acordo com o levantamento, desde 2012, observa-se contínua redução no número de trabalhadores nos cinco maiores bancos que atuam no Brasil: Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal.
Segundo o Dieese, a despeito das aquisições e fusões ocorridas nesse período, essas instituições, juntas, fecharam 39.529 postos de trabalho bancário ou 8,7% do total das vagas. Os dois bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil) responderam pela maior parte, quase 64%, do total de vagas eliminadas entre 2012 e 2018.
Ainda de acordo com o Dieese, esse movimento está relacionado à política empreendida pelos maiores bancos do país, de migração dos clientes das plataformas tradicionais de atendimento (as agências bancárias) para os canais digitais (internet e mobile banking).
A reestruturação em curso nas grandes instituições passa pela introdução acelerada de novas tecnologias e digitalização de processos, mas, principalmente, pelo encolhimento das estruturas físicas e de pessoal.
Enquanto a maioria dos grandes bancos está reduzindo postos de trabalho, o banco Inter segue contratando, segundo a diretora de marketing e gestão de relacionamento com o cliente, Priscila Salles.
“São contratadas por volta de 60 pessoas por mês em diversas áreas. Nossa realidade é inversa a do mercado”, diz. E o banco que oferece, entre outros produtos, uma conta digital, não tem agências físicas.
Mineiro deve encerrar 2019 entre os seis maiores
Com atuação 100% digital, o Banco Inter, com sede em Belo Horizonte, pretende encerrar 2019 como o sexto maior do país. “Somos o maior banco digital do Brasil”, diz a diretora de marketing e gestão de relacionamento com o cliente, Priscila Salles.
Em junho deste ano, a instituição financeira chegou a contabilizar 2,5 milhões de clientes. “São feitas cerca de 20 mil solicitações de abertura de contas por dia”, afirma.
O banco passou a atuar com a conta digital em 2015. A partir daí, o número de clientes cresceu de forma expressiva ano a ano. “Antes de 2015, sem considerar o crédito consignado, não passávamos de 10 mil clientes”, diz.
O Banco Inter está no mercado há 25 anos e, ao longo desse período, passou por várias mudanças. Ela conta que a empresa começou como uma financeira, a Intermedium, em 1994. Em 2008, passou a ser um banco múltiplo.
“Em 2019, a meta é chegar a ser o sexto maior banco do país”, afirma Priscila.
Para ela, as agências físicas podem perfeitamente ser trocadas pelo aplicativo. “Não dá para falar em prazo, só que as agências tradicionais, físicas, estão fadadas a morrer”, afirma.
Para o professor do Instituto de Economia da Unicamp, especialista no sistema bancário, Giuliano Contento de Oliveira, o processo de “bancarização” e de acesso a produtos e serviços financeiros teve avanços consideráveis com a flexibilização dos critérios das instituições financeiras e não financeiras para a abertura de contas e acesso aos produtos e serviços. “Isso tem relação com o surgimento de inovações realizadas, sobretudo, pelas chamadas ‘fintechs’”, diz.
Atualmente, há 697 fintechs no Brasil, conforme dados da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). No ano anterior, eram 694 e, em 2017, 521. Minas Gerais responde por 9% das unidades brasileiras.