Vivemos momentos turbulentos, com a crise econômica, política e moral. E em mares revoltos como o que vivemos, é muito fácil desesperarmo-nos ou perdermos a esperança. Nesse momento nossa mente cria uma série de fantasias, ilusões e, às vezes, expectativas irreais. Tudo isso gera muito sofrimento. E o que fazer?
Há alguns anos tenho me deparado com pessoas que procuram ajuda em momentos de crise. Coisas como “Perdi o emprego, estou desesperado” ou “Terminei o meu casamento, o meu mundo acabou” são expressões comuns que tenho ouvido. E nesses casos sempre pergunto à pessoa: “Diante dessa realidade, qual seria o cenário de catástrofe? Qual seria o pior cenário imaginável?”.
Inicialmente as pessoas costumam ficar confusas diante do meu questionamento. Afinal, elas acreditam que já estão vivendo o pior cenário, mas ao refletir sobre o pior cenário possível, se dão conta de que nem tudo é tão ruim como parece. E ao se preparar para o pior cenário, elas encontram caminhos para resolver essa situação.
Recentemente, conversando com um amigo sobre esse assunto, descobri que a minha ideia já é utilizada há mais de 2,3 mil anos. Se chama estoicismo (movimento filosófico que surgiu na Grécia Antiga e que preza a fidelidade ao conhecimento, desprezando todos os tipos de sentimentos externos, como a paixão, a luxúria e demais emoções) e uma das bases dessa filosofia é estar preparado psicologicamente e fisicamente para esses cenários de catástrofe.
E os estoicistas levavam isso muito a sério. Postulavam, por exemplo, que deveríamos viver com o mínimo necessário por alguns dias do mês, pois a prática nos tornaria mais fortes e preparados para os tempos ruins. Além disso, geralmente ficamos com medo de mudanças por todas as incertezas e sensação de incapacidade que temos, geradas pela falta de experiência e insegurança. Essa prática reduz o medo porque desenvolvemos a habilidade de viver com pouco.
Isso não significa que devemos ficar o tempo todo pensando em catástrofes (embora naturalmente algumas pessoas o façam). Devemos estar preparados para os infortúnios da vida e ter um plano B para seguir adiante e aprender com o ocorrido.
Na prática, podemos sempre aprender. Como fazer algo, como não fazer…E criar cenários de catástrofe nos ajudam a prever, e até nos antecipar, de consequências ruins. Não se trata de ficar mirando naquilo que pode dar errado, mas sim analisar “o tamanho que pode ficar o monstro e matá-lo quando ainda é pequeno”.
Então, da próxima vez que se perceber em apuros, pergunte-se “Qual é o pior cenário possível?”. Em seguida, emende a questão “Neste cenário quais seriam possíveis alternativas?”. Lembre-se que nem sempre a solução ideal é possível ou factível, mas existe uma alternativa “menos pior” que na realidade é a melhor solução possível.
A partir daí trace um plano para essa solução e dê imediatamente o primeiro passo para concretizar essa solução. Não deixe para iniciar amanhã. Comece fazendo hoje e perceba que geralmente o primeiro passo é o mais difícil, mas os outros subsequentes tendem a ser mais fáceis.
Com o tempo você perceberá que essa habilidade de criar cenários de catástrofe e se antecipar a eles é extremamente benéfico. E nos traz calma e paz de espírito.
Artigo de Marcelo Katayama, médico e terapeuta do Núcleo Ser Treinamento e Consultoria
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