Após uma semana de crise, os ânimos se acalmaram no Banco do Brasil (BB). A ideia é silenciar e deixar a poeira baixar para voltar a tratar do plano de reestruturação que irritou o presidente Jair Bolsonaro e quase custou a demissão do presidente do BB, André Brandão. Os bancários, no entanto, seguem tentando reverter o projeto. Por isso, já se reuniram com executivos do banco e agora pediram ajuda de parlamentares para evitar o fechamento de agências e uma nova rodada de demissões no BB.
O pedido foi apresentado nesta sexta-feira (15/1) por meio de uma “carta a parlamentares”, assinada pelas associações que representam os funcionários do Banco do Brasil — Associação dos Aposentados e Funcionários do Banco do Brasil (AAFBB), Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb), Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da Central Única de Trabalhadores (Contraf-CUT) e Federação das Associações de Aposentados e Pensionistas do Banco do Brasil (Faabb).
O documento ressalta que “qualquer reestruturação precisa considerar a dimensão estratégica do Banco do
Brasil, sobretudo neste momento crucial da vida do país” e diz que “o Congresso Nacional, representante da vontade popular, poderá ter um papel decisivo no sentido de impedir que sigam em frente os planos de fechamento de unidades do Banco do Brasil e de extinção de 5 mil vagas no quadro de pessoal da empresa”. Por isso, pede “apoio e atenção de cada parlamentar para que as intenções da Direção do Banco do Brasil sejam revistas”.
Os funcionários do BB argumentam que “inovação digital é bem-vinda, desde que combinada com uma rede capaz de atendimento presencial”. E explicam: nem toda a população brasileira tem facilidade com os meios digitais e o BB é o único banco com atendimento presencial em muitas das pequenas cidades do interior do país, sobretudo naquelas em que há forte agricultura familiar, que é amparada pelos programas de crédito do Banco do Brasil.
“Ademais, ao diminuir o quadro de pessoal, a decisão amplia o deficit no atendimento à população e sobrecarrega ainda mais as agências, com ônus para a qualidade dos serviços prestados aos clientes e acarretando desgaste físico e emocional para os funcionários na linha de frente”, acrescenta o documento, lembrando que o BB pode contribuir com o processo de enfrentamento à crise da covid-19 por meio de ações como o crédito e destacando que o momento já é de elevação do desemprego.
Foi o momento inoportuno para o anúncio da reestruturação e a queixa de parlamentares, que não gostaram da notícia de que o BB iria fechar agências em suas bases eleitorais, por sinal, que fez o presidente Jair Bolsonaro perder a cabeça com o projeto que prevê o fechamento de 361 unidades de atendimento e o desligamento voluntário de até 5 mil funcionários do Banco do Brasil. O Palácio confirmou que, irritado, Bolsonaro pediu a demissão de Brandão. Porém, o executivo parece ter ganhado sobrevida.
Reestruturação
A permanência de Brandão foi defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que viram o mercado reagir negativamente à demissão. Contudo, fez a ala política do Palácio do Planalto pedir revisões do plano de reestruturação do BB. A equipe econômica ainda não confirma alterações no projeto. Porém, a tendência é a reestruturação caminhe mais devagar a partir de agora.
Funcionários do BB estão esperançosos na revisão do plano. É que, nessa quinta-feira (14), a Comissão Executiva Bancária Nacional de Negociação (CEBNN) da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito (Contec) foi recebida por representantes da administração do Banco do Brasil e pediu que a reestruturação fosse deixada de lado. Os executivos ficaram de apresentar as reivindicações ao Comitê Gestor do BB e voltar a conversar com os funcionários sobre o assunto.
“Diante do fato de o banco ter atendido nosso pedido de aceitar participar da reunião de quarta e da afirmativa de que nossas reivindicações seriam levadas ao Comitê Gestor do BB, além do fato de estarmos em mobilização nacional, acredito ser possível uma rodada de negociações extraordinária e, a depender da posição dos parlamentares contatados, que a diretoria do banco seja obrigada a recuar na implantação oportunística de desmonte do papel social do BB”, disse Arimarcel Padilha, membro do Contec.