O CBSS, banco da holding Elopar dos sócios Bradesco e Banco do Brasil, está fazendo parcerias com fintechs, prevendo em 2018 alcançar 30 por cento de um mercado de rápido crescimento e que já empresta mais de 1 bilhão de reais por ano.
Inicialmente, os acordos usarão o modelo mais praticado no mercado, com fintechs captando pedidos de empréstimos e filtrando o perfil de risco dos tomadores, operação conhecida no jargão do mercado como “lead” e pela qual as fintechs são remuneradas, quase sempre por bancos de médio porte e cooperativas de crédito, que de fato concedem os financiamentos.
“Nós temos funding competitivo e em boa quantidade e as fintechs conseguem originar crédito com um custo muito menor do que faríamos por meios físicos”, disse à Reuters o presidente do Banco CBSS, Carlos Giovane.
A primeira parceria é com a Bom Pra Crédito, marketplace no qual cerca de 500 mil interessados em tomar empréstimo pessoal submetem todo mês pedidos que são distribuídos para cerca de 25 bancos oferecerem propostas.
Além desse acordo, já em andamento, negociações estão em curso com outras quatro fintechs especializadas em crédito: Guia Bolso, Lendico, Finanzero e Wecash, previstas para estarem operacionais ainda em 2017.
O movimento marca a primeira aproximação operacional, mesmo que de forma indireta, de grandes bancos com fintechs, que nos últimos dois anos emergiram como potenciais rivais no crédito pessoal, ao oferecerem taxas de juros muito menores do que as praticadas no sistema financeiro.
Segundo o presidente da Bom Pra Crédito, Ricardo Kalichsztein, ser parceiro é melhor.
O CBSS, no caso, oferecerá empréstimos pessoais sem garantia com taxas a partir de 3,9 por cento ao mês. A taxa média do sistema financeiro foi de 7,2 por cento ao mês, segundo dados do Banco Central referentes a agosto.
A iniciativa acontece em meio a uma audiência pública aberta pelo Banco Central para regulamentar a atuação das plataformas digitais de crédito. A proposta do BC é classificar essas fintechs em duas categorias, a que empresta com capital dos próprios acionistas e a que conecta investidores a tomadores de recursos, prática conhecida como peer to peer lending.
Na avaliação de especialistas do setor, dependendo da forma como vier a regulação, o modelo atual de parcerias pode ser esvaziado, uma vez que bancos podem preferir ter plataformas digitais próprias, enquanto algumas fintechs poderiam ter um braço financeiro para operar de ponta a ponta.
“As fintechs começarão a se perguntar se vale a pena virar banco”, disse Rubens Vidigal Neto, sócio do PVG Advogados.
Atento a esse movimento, o CBSS já visualiza aprofundar a aproximação com as fintechs. Num primeiro momento, as conversas envolvem proposta de remuneração mais atrativa, na qual o banco pode repassar às parceiras mais do que apenas um valor pela originação de negócios.
Mas com pelo menos uma delas as conversas já evoluíram para participação societária.
“Estamos em negociações finais para sermos sócios de uma delas (fintech)”, disse Giovane, sem dar mais detalhes.
A entrada do CBSS no crédito digital é motivada, dentre outros fatores, pelo interesse dos sócios em acelerar a rentabilização do negócio, disse o executivo.
Após ter obtido as aprovações do Banco Central no ano passado para atuar como banco, o CBSS vem deslanchando uma série de iniciativas para vender produtos financeiros, incluindo por meio da financeira Ibi, de parcerias com redes varejistas e o lançamento de um plataforma digital própria de cartão de crédito, a Digio.
Essa plataforma começa a operar ainda este mês um marketplace, inclusive com produtos como os da Apple Store. A partir de novembro, a Digio incluirá oferta de crédito pessoal.
Todas essas frentes consumiram investimentos que levam mais tempo para dar retorno. O banco, que tinha patrimônio de 410 milhões de reais em junho, já opera no azul desde o mês passado, mas o plano é começar a ter lucro.
“As parcerias com as fintechs no crédito são um negócio que permite retorno quase imediato”, disse Giovane.
Fonte: Exame