As carteiras de crédito da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil devem ter alta próxima a 10% em 2018, com quedas maiores nos juros e busca por eficiência operacional. Os possíveis riscos trazidos com o novo governo, porém, limitam a alavancagem.
Apesar de ainda mostrar reflexos da desaceleração de crédito e dos spreads elevados, o balanço da Caixa do segundo trimestre – divulgado ontem – apontou crescimento de 62,8% no lucro líquido do período em relação a igual intervalo do ano passado, de R$ 1,589 bilhão para R$ 2,587 bilhões.
Com alta de 3,5% na carteira de crédito ampliada (de R$ 692 bilhões para R$ 716 bilhões), porém, grande parte do resultado foi proveniente da queda de 27,7% nas perdas (de R$ 6,259 bilhões para R$ 4,560 bilhões), do aumento de 43,4% na venda de ativos (de R$ 196 milhões para 281 milhões) e das receitas com prestação de serviços e tarifas (+11,3%, de R$ 5,578 bilhões para R$ 6,211 bilhões), na mesma relação.
O movimento, por sua vez, foi bastante semelhante ao visto no BB, que mostrou aumento de 47,1% no lucro ajustado no período (de R$ 1,801 bilhão para R$ 2,649 bilhões), somada à queda de 7,6% na carteira de crédito (de R$ 753 bilhões para R$ 696,1 bilhões), alta de 7,3% nas receitas com tarifas e serviços (de R$ 5,886 bilhões para R$ 6,316 bilhões) e recuo de 1,3% nas despesas (de R$ 7,973 bilhões para R$ 7,864 bilhões).
Segundo o analista da Lopes Filho & Associados João Augusto Salles, a melhora gradativa do País, com a taxa básica de juros (Selic) rumando para os 7% ao final de 2017, deve impulsionar uma maior “pretensão por alavancagem”.
“A partir de 2018, a busca será por retomar o crédito e a eficiência operacional. Como a inadimplência tende a melhorar, a premissa é que o recuo nos spreads se intensifique até mesmo por uma questão de competitividade e o volume das operações aumente”, explica o especialista e reforça que a expectativa é que, com isso, a carteiras dessas instituições chegue a um aumento de até 10% no ano que vem.
Apesar de a inadimplência da Caixa ter demonstrado retração de 0,69 ponto percentual no segundo trimestre deste ano frente a igual período de 2016 (de 3,20% para 2,51%), o Banco do Brasil demonstrou aumento de 0,85 ponto percentual na mesma comparação, mesmo sendo excluído um caso específico de pessoa jurídica (de 2,85% para 3,70%).
Segundo o coordenador do mestrado profissional em economia e mercados do Mackenzie, Vladimir Fernandes Maciel, contudo, a tendência para os bancos públicos é de menor exposição ao risco.
“Sem aportes do Estado, a expectativa, agora, é de uma atuação muito mais próxima à lógica de mercado do que de fomento”, pondera.
Em nota, a Caixa informou ao DCI que “a expectativa é de manutenção do volume de crédito e da participação de mercado, direcionando esforços para a melhora contínua na qualidade da carteira”.
Obstáculos
Os especialistas entrevistados, no entanto, afirmam que ao mesmo tempo em que a busca pelos dois maiores bancos públicos do País seja de expansão e alavancagem, o persistente endividamento das famílias e a alta inadimplência podem ser obstáculos, bem como os possíveis riscos de imagem e de mudança na estrutura de gestão das instituições ante a perspectiva de um novo governo a partir do ano que vem.
“O crescimento do crédito depende mais da demanda do que da oferta. Por conta desse cenário, a discussão fica bem gradativa e só tende a ser maior no segundo semestre do ano que vem”, afirma o coordenador do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Eduardo Coutinho.
“As políticas a serem adotadas no novo governo afetam essas instituições e, principalmente em anos eleitorais e ante o atual cenário político, tanto o risco de imagem quanto o de mudança na gestão, se agravam”, acrescenta Salles.
Fonte : Jornal DCI