Após criar apenas seis postos de trabalho em janeiro, número risível para o setor mais lucrativo da economia, os bancos brasileiros engataram a marcha ré em fevereiro ao cortarem 415 empregos, acumulando assim saldo negativo de 409 vagas nos dois primeiros meses do ano. Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), compilados pelo Ministério da Economia.
Em 2018, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander lucraram R$ 73,2 bilhões, aumento de 12,8% em relação a 2017. A Caixa, que completa o grupo dos cinco maiores bancos do país, ainda não divulgou seu resultado do ano passado.
“Os bancos, com seus lucros sempre crescentes, pouco importando a situação econômica enfrentada pelo país, insistem em não gerar empregos para reduzir nosso alarmante índice de desemprego. Contribuir para a geração de empregos é uma contrapartida fundamental dos bancos para com a sociedade. Além disso, aumentar o número de contratações atenuaria a imensa sobrecarga de trabalho a qual os bancários estão submetidos e, por consequência, proporcionaria um atendimento melhor à população. Os bancos podem e devem contratar mais”, avalia a diretora de Imprensa e Comunicação do Sindicato, Marta Soares.
Em dezembro de 2017, de acordo com as demonstrações contábeis das próprias instituições, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander tinham em média 820 clientes por empregado. Um ano depois, essa relação aumentou 3,3%, para 847 clientes por empregado.
Rotatividade
Além de cortar postos de trabalho, os bancos continuam utilizando como forma de cortar custos e maximizar lucros.a rotatividade, que consiste em demitir bancários que ganham mais e contratar funcionários com salários mais baixos. Em fevereiro, o salário médio dos desligados dos bancos equivalia a R$ 6.927, enquanto a remuneração média dos admitidos corresponde a R$ 4.185. Ou seja, novos funcionários foram contratados ganhando 40% menos do que os que deixaram o setor.
“O bancário cumpre metas, se qualifica e cresce na carreira. Ao invés de ter seu esforço e experiência valorizados, o banco o demite para cortar os salários mais altos. É esse tipo de meritocracia tão defendida pelo setor?”, questiona Marta.
Desigualdade de gênero
Os dados do Caged também revelam que a desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda persiste no setor financeiro. Em fevereiro, as mulheres foram contratadas ganhando em média R$ 3.602, enquanto os homens admitidos receberam em média R$ 4.662. As demitidas ganhavam em média R$ 5.411, bem menos do que os dispensados (R$ 8.526).
“Apesar de mais escolarizadas que os homens no setor, bancárias ganham salários menores e possuem maior dificuldade para subir na carreira. Infelizmente, o machismo ainda persiste no setor bancário”, diz a diretora do Sindicato.
Na Campanha Nacional Unificada dos Bancários 2018, a categoria conquistou a realização de novo Censo da Diversidade, que deve iniciar este ano e será . O censo é uma ferramenta fundamental no combate às desigualdades de gênero e raça no setor bancário e na promoção de políticas de igualdade de oportunidades para mulheres, PCDs (pessoas com deficiência) e negros.
“O objetivo é que o censo não apenas trace um perfil da categoria, mas seja aplicado como um instrumento de transformação contra a violência e a discriminação que se perpetuam na sociedade e também muitas vezes são constatadas no setor bancário na forma de assédio sexual e moral”, explicou a presidenta do Sindicato, Ivone Silva, que é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
A Fenaban também aceitou a proposta da criação do Agente da Diversidade, que será constitúido por um representante em cada local de trabalho responsável por promover os debates sobre diversidade.
Fonte: Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região