O Banco do Brasil (BBAS3) divulgou seus resultados que, de maneira geral, ficaram acima do esperado pelo mercado. Porém, o lucro de R$ 9,8 bilhões e o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de 21,7% não foram suficientes para convencer analistas, que enxergam deterioração em algumas linhas, como inadimplência e margem com cliente.
Na bolsa, o BB operou de maneira apática, fechando o dia com leve queda de 0,42%, a R$ 26,19, após iniciar a sessão com tombo de 2%. Com o seu resultado, o banco também distribuirá R$ 2,6 bilhões em proventos, sendo R$ 866 milhões em dividendos e R$ 1,7 bilhão em juros sobre o capital próprio.
Além disso, o banco aproveitou para aumentar algumas projeções, como a margem financeira bruta, que antes estava com crescimento de 7% e 11% e agora passou a 10% e 13%. Porém, a estatal espera elevar a provisão de R$ 30 a R$ 27 bilhões para R$ 31 a 34 bilhões. No primeiro semestre, o banco provisionou R$ 16,3 bilhões.
Veja abaixo os principais temores dos analistas:
Margem financeira
Para o Itaú BBA, a queda da margem financeira foi uma surpresa. O indicador recuou 2% no trimestre e 1% no ano, para R$ 19,9 bilhões, explicado pela menor margem de captação de recursos (menor taxa Selic), pelo número de dias úteis e pelo mix de captação.
A corretora recorda que o resultado poderia ter sido pior, não fosse a margem com cliente, que subiu, principalmente, por conta do banco argentino Patagônia, que é controlado pelo Banco do Brasil. Isso acontece, sobretudo, pelas políticas do presidente Javier Milei de desvalorização do peso que impulsionaram os ganhos, algo já visto no primeiro trimestre.
Apesar disso, a XP diz que embora seja difícil prever quanto tempo a volatilidade ligada à operação argentina pode durar, “continuamos acreditando que esse é o curso normal dos negócios”.
O Bradesco BBI também cita o indicador como um ‘mau presságio’ do banco. “Notavelmente, a margem com clientes registrou uma contração sequencial nos spreads, enquanto os ganhos de Tesouraria tiveram outro forte desempenho, de R$ 5,7 bilhões, onde o Banco Patagônia contribuiu com R$ 1,9 bilhão”, escreveu.
Enquanto isso, o BTG colocou uma “bandeira amarela” na qualidade dos ativos, que combinada com um agravamento de margem financeira dos clientes (devido à queda dos spreads) e uma falta de visibilidade na estimativa da margem financeira com mercado (especialmente no caso da Patagônia), está se tornando cada vez mais difícil acreditar no crescimento dos lucros no futuro.
O aumento da expectativa da margem financeira é positivo, mas dificilmente uma surpresa para o Itaú BBA, já que o BB estava superando materialmente o intervalo. “A maioria dos investidores já estava acima da orientação para o NII, na nossa opinião”, diz.
Índice CET1
Outro ponto que levantou dúvidas dos analistas foi o índice CET1, que caiu 30 bps (pontos-base), para 11,6%, o terceiro trimestre consecutivo de queda. O indicador mede a resiliência financeira de um banco e é usada para avaliar a adequação do capital e sua capacidade de absorver perdas.
O Safra lembra que cerca de um terço desta redução foi atribuído à deterioração das condições de mercado dos ativos ponderados pelo risco (RWA) e dois terços à expansão do crédito dos RWA, principalmente sobre títulos privados.
“Na nossa opinião, isto não está relacionado com os fortes níveis de rentabilidade e deverá ser um ponto de atenção no futuro, especialmente à medida que o banco se expandiu fortemente no crédito a grandes empresas e em títulos privados no segundo trimestre”, coloca.
Inadimplência
O Bradesco recorda que o índice de inadimplência se deteriorou pelo quarto trimestre consecutivo, com empréstimos corporativos e rurais piorando sequencialmente, enquanto os seus pares entregaram números mais positivos.
Para a Genial, a linha foi o ponto fraco do banco, com um aumento de 0,1 pp, chegando a 3%, resultando num consumo de 4,8 pp do índice de cobertura que terminou o trimestre em 191%.
“No entanto, acreditamos que a inadimplência deve melhorar para os próximos trimestres com o lançamento do Plano Safra, fazendo com que os produtores em atrasos fiquem em dia para aproveitar o novo ciclo de crédito”, discorre.
Já a XP nota que embora tenha havido um aumento significativo no nível esperado de provisionamento para o ano, o número foi compensado por uma receita líquida de juros mais alta.
Isso, inclusive, foi debatido pelo diretor de relações com investidores, Geovanne Tobias, em teleconferência com jornalistas.
“Acreditamos que entregando o lucro que propomos no guidance, os dividendos não vão ser impactados, mesmo com o aumento das provisões. É importante que o aumento da provisão está sendo contrabalançado com o aumento dos negócios”, disse.
Ele defendeu ainda que as provisões são muito pontuais para determinados segmentos e linhas e não é algo generalizado.
“Tivemos uma conjuntura, por exemplo, no campo com queda do preço de commodities, com alta do dólar, que acabou fazendo com que pontualmente muitos produtores decidissem atrasar os seus pagamentos. O próprio atraso na liberação do novo Plano Safra também prejudicou. Agora, não se trata de um problema estrutural ou setorial em que você vê uma inadimplência, totalmente disseminada”, diz.
Banco do Brasil: Vale a compra?
Na visão da Genial, o Banco do Brasil permanece com um valuation atraente, sendo negociado abaixo de seu valor patrimonial e com um ROE superior ao seu custo de capital.
As ações estão sendo cotadas a múltiplos descontados em relação aos seus pares, com um preço sobre o lucro de 4x para 2024 e 3,7 vezes 2025, e um preço sobre o valor patrimonial (P/VP) de 0,8x para 2024.
“Apesar dos múltiplos baixos, o banco mantém um desempenho operacional robusto, comparável ou superior ao de seus concorrentes. Adicionalmente, oferece um dividend yield generoso estimado em 10% para 2024. Sendo assim, reiteramos nossa recomendação de comprar com um preço-alvo de R$ 34”, coloca.
E mesmo recomendando compra, o BTG faz um alerta: a visão positiva sobre o Banco do Brasil vem perdendo força nos últimos meses.
“Já há algum tempo, não o consideramos em nossa “lista de teses principais”, que o BB esteve por
alguns anos. Será importante ouvir a administração na teleconferência… caso contrário, sentimos que os investidores começarão a precificar que o banco está no pico de lucros. Nossa principal escolha entre os bancos brasileiros é Itaú (ITUB4)”, escreve.
O banco calcula que a estatal esteja negociando a 0,87x o último VP, ROE ainda acima de 20% e com um rendimento de dividendos de 12%.
E para o Itaú BBA, apesar dos sólidos lucros e ROE, as tendências subjacentes são cada vez mais suaves no que diz respeito ao NII e à qualidade do crédito, “o que nos leva a permanecer à margem por enquanto”.
“Nossa preferência nos grandes bancos vai para o Santander (SANB11) e para o recentemente modernizado Bradesco (BBDC4)”, completa.