A necessidade de a Vale repensar a sua forma futura de atuação passa, diretamente, pelo conselho de administração da companhia, instância em que estão representados os sócios controladores e no qual há também conselheiros independentes, além de um representante dos trabalhadores. Cabe ao conselho, formado por 12 integrantes, definir as diretrizes e as políticas de negócios da mineradora. Com a mudança de governo, em janeiro, já se previa como “natural” que houvesse alterações no conselho da Vale. A tragédia de Brumadinho, em 25 de janeiro, levou à discussão sobre a abrangência dessas mudanças a curto prazo.
A Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Vale está marcada para 30 de abril. Um mês antes, no fim de março, a companhia terá que divulgar o manual da assembleia com os nomes indicados ao conselho. Os integrantes do conselho têm mandatos vencendo na AGO de abril de 2019. Mas não está claro neste momento se poderá haver uma troca mais ampla ou se as mudanças serão pontuais. “Começou uma voz mais forte [no conselho] de não mudar tanto agora”, disse uma fonte ligada aos acionistas.
Os controladores da Vale – os fundos de pensão estatais, liderados por Previ (Banco do Brasil); BNDES, Bradespar e Mitsui – já tinham uma análise das competências dos integrantes do conselho de administração antes mesmo de Brumadinho. Havia o entendimento que o conselho é formado por muitas pessoas com perfil financeiro, e se avaliou pela necessidade de ter profissionais com perfis mais plurais, incluindo pessoas da área de sustentabilidade e de risco, além de executivos que já tenham exercido o papel de CEOs em outras companhias. A essa análise se soma avaliação segundo a qual o conselho precisa de pessoas ligadas diretamente à mineração.
Há, portanto, um reconhecimento de que o conselho da Vale deveria expressar maior diversidade, embora haja comitês temáticos formados por especialistas. Há, no entanto, quem tenha outra visão: “Se fosse assim precisaríamos de um conselho com umas 25 pessoas para suprir todas as especialidades que a Vale tem”, disse uma fonte.
Em 2017, a Vale migrou para o Novo Mercado, e incorporou dois conselheiros independentes: Sandra Guerra e Isabella Saboya. Sandra e Isabella são especialistas em governança corporativa, mas não tinham experiência prévia em mineração. Não está claro se elas devem tentar a reeleição na AGO de abril. O que parece certo é que haverá troca de dois nomes indicados pela Previ.
Gueitiro Genso, ex-presidente da fundação e atual presidente do conselho da Vale, e Dan Conrado, também indicado pela Previ, devem ser substituídos pelo atual presidente da fundação, José Maurício Coelho, e pelo presidente do conselho deliberativo da Previ, Marcio Hamilton Ferreira. A Previ tem três vagas no conselho, sendo que o terceiro integrante, Marcel Juviniano Barros, deve ser reconduzido para outro mandato.
Outro nome que deixará o conselho da Vale é Eduardo Guardia, ex-ministro da Fazenda de Michel Temer, que foi contratado pelo BTG Pactual. No caso do BNDES, a BNDESPar, braço de participações acionárias do banco, o representante é Ney Brito, especialista em riscos financeiros. Brito entrou no lugar de Eduardo Bartolomeo, agora indicado presidente interino da Vale e que na época representava o banco no conselho. Também não está claro se Brito permanecerá no conselho da Vale.
Uma fonte próxima dos acionistas disse que a decisão que for tomada por um controlador da Vale vai afetar as decisões dos demais. Embora não tenha mais controle de direito desde a migração para Novo Mercado, a empresa ainda tem controle de fato, pois existe um acordo de acionistas em vigor. A Bradespar, braço de participações do Bradesco, também deve trocar a conselheirar Denise Pavarina, que se aposentou na instituição. A tendência, portanto, é que a Bradespar indique um novo nome. Os japoneses da Mitsui também podem trocar um de seus dois conselheiros. Existe ainda um representante dos trabalhadores no conselho da Vale, Lucio Azevedo.