O Banco do Brasil propôs ao seu Conselho de Administração uma estratégia para reter uma safra de diretores que vai se aposentar nos próximos anos em meio ao assédio de concorrentes ao seu quadro e os desafios da covid-19, apurou o Estadão/Broadcast. A ideia da gestão atual, sob o comando de André Brandão, é possibilitar que esses executivos permaneçam na instituição a despeito de já terem atingido o tempo necessário para saírem, benefício até então restrito a vice-presidentes, conforme fontes que pediram anonimato.
O plano de incentivo a diretores, como tem sido chamado nos corredores do banco, deve ser uma ação pontual – valerá até 2027 – e tem como objetivo central segurar diretores mais seniores e que poderiam deixar o BB por conta da aposentadoria, explicam as fontes, que não quiseram ser nomeadas, uma vez que a informação ainda é confidencial. Há ao menos 15 executivos na mira – e que correspondem a mais da metade do total de diretores do banco. Dentre eles, estão nomes como Edson Rogério da Costa, de meios de pagamentos, e José Avelar Matias Lopes, de gestão de pessoas, dizem fontes.
A decisão de reter ou não o funcionário caberá, contudo, à instituição, ou seja, é soberana e não individual de cada um, uma vez que é uma prerrogativa do conglomerado reter quem interessa ao negócio. Nas últimas semanas, o assunto foi acertado com setores do governo Bolsonaro e, agora, uma mudança no estatuto da instituição será proposta ao colegiado, que tem o ex-Citi Hélio Magalhães no comando.
O momento é crucial para o BB, que tem sofrido forte assédio dos concorrentes privados ao seu quadro, ao mesmo tempo em que a competição no mercado só cresce com fintechs e afins. Além disso, o banco ainda tenta fechar o gap de retorno para os rivais Itaú Unibanco, Santander e Bradesco, ao mesmo tempo em que a pandemia continua exigindo atenção à inadimplência. Os calotes não aumentaram sob o efeito das postergações de dívidas, mas, com o fim do antídoto, a tendência é de alta daqui para frente, principalmente ao longo de 2021.
Nesse cenário, a retenção de diretores seniores ajudaria a minimizar eventuais impactos ao BB, seja da ordem de concorrência ou da pandemia. Atualmente, somente os vice-presidentes podem aderir à aposentadoria e continuarem na ativa. No caso dos diretores, o plano do banco é permitir que o alto escalão termine o mandato atual e tenha até mais duas gestões, de 2 anos cada.
Despesas
Além disso, a ampliação do benefício aos diretores permite ao banco segurar executivos-chave sem pressionar as despesas com pessoal. Isso porque o complemento de salário virá do fundo de pensão do BB, a Previ, que já provisionou tais pagamentos à medida que esses funcionários se aproximam da data da aposentadoria. Caso os 15 diretores venham a aderir – embora o foco da ação não seja a redução de custos -, a economia poderia passar de R$ 1 milhão por ano.
Ainda que os salários possam praticamente dobrar a renda dos diretores do banco, vão permanecer em sua maioria abaixo daqueles pagos pela iniciativa privada. No entanto, a medida reduz um pouco essa lacuna e pode ajudar na retenção dos diretores, conforme a expectativa do BB. Nos bastidores, a estratégia foi bem vista por diretores, afirma uma fonte. Os salários desse escalão estariam congelados há cerca de 4 anos, o que é um incentivo para a aposentadoria. Já na Previ, os benefícios são reajustados a cada ano.