Boa tarde! Hoje é quinta, 26 de dezembro de 2024

(11) 3104-4441

Banco do Brasil pode falir em dez anos, prevê jornalista em artigo

Publicado em: 13/06/2019

O STF decidiu na semana passada que o Congresso Nacional precisa dar autorização prévia para a privatização das empresas estatais — mas não precisa se manifestar em relação à venda de suas subsidiárias. Ótimo. Esse foi mais um desses momentos rumorosos, que têm se repetido com insistência, em que ministros da Corte se prestam a analisar leis que, como no caso específico da desestatização, já foram aplicadas à exaustão e que, a rigor, deveriam prescindir dos escrutínios judiciais.

Desde 1991, quando a venda da Usiminas inaugurou uma breve temporada de tentativas de redução do tamanho do Estado , mais de 20 empresas foram transferidas para a iniciativa privada sem que o judiciário visse irregularidades no processo. Mesmo assim, o STF resolveu voltar ao assunto e se manifestar agora. E quando a Suprema Corte fala, todos devem ouvir. Ponto final.

Diga-se em favor dos ministros que trouxeram o tema novamente à baila que, pelo menos, foi posta a ordem num debate que sempre motivou a ação de pessoas interessadas, senão em impedir, pelo menos em dificultar o enxugamento da máquina. Mas enquanto discussões desse tipo continuam mobilizando paixões em Brasília, a situação continua indo mal no mundo real.

Nesse ambiente chamado mercado, onde as empresas produzem, geram empregos e recolhem impostos, as estatais continuam sendo um fardo pesado para o contribuinte brasileiro. E mesmo aquelas empresas que hoje são intocáveis como uma vaca sagrada, correm o risco de desaparecer nos próximos anos se não houver uma mudança profunda no seu modelo de gestão e de relacionamento com os clientes.

AGÊNCIAS DE BOLSO

Tome-se, por exemplo, o Banco do Brasil , a mais longeva das estatais brasileiras. Se nada for feito para evitar — ou melhor, se não houver uma mudança rápida da mentalidade em torno da instituição —, ele corre o risco de sumir do mapa nos próximos anos. Não por ação de seus concorrentes, mas por incapacidade de acompanhar as transformações do mercado em que opera. Num mundo financeiro cada vez mais tomado por novidades como as fintechs e as agências bancárias que cabem no telefone celular, o BB pode ir a pique não por falta de musculatura, que ele tem de sobra, mas por falta de agilidade.

Em 2016, O BB anunciou um plano ousado, que propunha fechar mais de mil agências e postos de atendimento dos mais de 6.000 que tinha pelo Brasil afora. Chegou a por essa política em prática e, em 2017, eliminou 670 agências — mas não conseguiu cumprir a meta a que se propôs.

O plano de enxugamento foi abortado antes de concluído e o novo presidente da instituição, Rubem Novaes, chegou a declarar logo depois de tomar posse, em janeiro deste ano, que, em sua opinião, a rede deve permanecer como está — e que a redução da máquina estatal defendida pelo ministro da Economia Paulo Guedes não diz respeito ao banco. O mercado pode mudar, mas o BB permanecerá como está.

PONTO PARA O BB

Esse é o xis da questão. No Banco do Brasil, assim como em todas as outras 133 empresas controladas pela União (46 de controle direto e 88 subsidiárias, conforme o último levantamento do governo), as decisões técnicas são sempre subordinadas a questões políticas que as afastam do mercado. Não basta ao governo professar um credo liberal para livrar suas empresas da influência política que compromete sua eficiência. Ele precisa dar mostrar de que não quer interferir e isso, o presidente Jair Bolsonaro já deixou claro que não quer fazer. Já interferiu no preço do diesel vendido pela Petrobras e, no caso do BB, interveio no departamento de marketing da instituição.

Bolsonaro discordou de um comercial com o qual o BB procurava atrair o público mais jovem para sua carteira de clientes. Sem entrar no mérito da qualidade da peça publicitária — que, na opinião deste articulista, era ineficaz e ruim de doer —, o fato é que Bolsonaro interferiu na estratégia destinada a enfrentar um problema que tem sido especialmente preocupante para os administradores do BB: a incapacidade de se comunicar com o público mais jovem.

A rigor, a base da pirâmide etária dos clientes do BB é formada por pessoas que, no passado, foram atraídos pela bem-sucedida estratégia de patrocínio dos torneios de voleibol justamente no momento em que a seleção brasileira do esporte começava a brilhar nas quadras do mundo. Depois da conquista da medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, e da medalha de ouro em Barcelona, em 1992, o vôlei virou mania entre os jovens e o nome do BB estampado nas camisas dos craques da seleção atraiu a atenção de quem acompanhou aquele momento de arrojo e de vitórias. Ponto para o BB.

INTERFERÊNCIA POLÍTICA

O problema é que nada foi posto no lugar daquele esforço vencedor. E os jovens que tinham vinte e poucos anos em 1992 hoje são senhoras e senhores na faixa dos 50. Desde aquela época, o banco estatal nunca mais conseguiu se comunicar com a juventude. Além de reduzir os esforços no sentido de ampliar sua presença no mundo digital, o bando passou a adotar estratégias de marketing tão vetustas quanto a própria logomarca da instituição — que existe há mais de meio século e é mantida até hoje exatamente como foi criada. Será que ela continua produzindo o mesmo efeito da época de seu lançamento? Provavelmente, não.

A propósito da interferência na campanha, diga-se que Bolsonaro não foi o único presidente a meter o bedelho nos assuntos do banco e pode-se dizer até que, no frigir dos ovos, sua ação acabará se mostrando menos nociva ao BB do que a de outros presidentes da República da história recente. Cerca de dois anos depois de sua posse, por exemplo, a ex-presidente Dilma Rousseff começou a se queixar do spread — ou seja, da diferença entre as taxas que os bancos pagam aos investidores e aquelas que cobram de quem toma os empréstimos.

Sem que seu governo tomasse qualquer providência macroeconômica para reduzir a taxa básica de juros e deixasse de gastar muito mais do que arrecadava, Dilma passou a exigir que os bancos do país reduzissem suas taxas de juros com a esperança de, com isso, ativar a economia que começava a dar sinais de exaustão em 2013. Ninguém, além dos bancos estatais, a obedeceu. Os clientes não viram muita vantagem na redução que o banco estava oferecendo e, no final das contas, o BB e a Caixa perderam dinheiro sem ganhar nada em troca.

VENDA ENQUANTO É TEMPO

O resto da história é conhecido. Sem entrar no mérito — ou nos deméritos — das circunstâncias que motivaram o desempenho de cada instituição, o fato é que, com o passar do tempo, os concorrentes privados foram abrindo vantagem em relação ao BB na corrida pela liderança do mercado. Observem-se, por exemplo, os balanços dos três maiores bancos do país em 2018. Enquanto o Itaú lucrou R$ 25,73 bilhões e o Bradesco R$ 21,56 bilhões, o BB teve um lucro de R$ 13,5 bilhões.

Os três bancos são equivalentes em matéria de rede de agências e de número de empregados. Com pequenas variações para mais ou para menos, todos os três têm mais ou menos 100.000 pessoas em seus quadros de colaboradores — e isso indica que a produtividade por empregado, num ano em que o balanço doBB não registrou lucro com a venda de ativos, foi muito inferior ao de seus concorrentes. Num cenário como esse, talvez o melhor fosse vender o BB enquanto ele ainda tem algum valor. Do contrário, o Banco corre o risco de enfrentar dificuldades e, no limite, desaparecer sem que o mercado brasileiro sinta sua falta.

Fonte: Coluna Dinheiro do Povo, por Ricardo Galuppo, publicado no Portal IG

Fale Conosco
Precisa de Assessoria Jurídica?
Olá, tudo bem? Como a Assessoria Jurídica pode ajudar você? Mande sua dúvida ou informação que necessita.