O controle de gastos e a falta de uma regulamentação bancária mais atualizada têm sido empecilhos para que os bancos públicos agilizem a migração digital de seus sistemas. Com forte demanda, porém, expectativa é que mudança chegue em até cinco anos.
Segundo o vice-presidente de tecnologia da informação da Caixa Econômica Federal, José Antônio Eirado Neto, apesar de os bancos públicos terem acelerado seus processos, as instituições precisam de planejamentos melhores para trazer a transformação digital para suas realidades.
“É complicado. Precisa ser uma estrutura diferente que não conflite com o modelo de negócio”, explicou o executivo em palestra realizada no CIAB Febraban.
Em relação ao avanço das tecnologias bancárias nas instituições públicas, os executivos ponderam ainda que as dificuldades vinculadas ao controle do governo também atrasam a adesão desses processos tecnológicos.
Além da limitação trazida pelo controle da União – com o Tribunal de Contas e a Controladoria-Geral (TCU e CGU) –, há também a impossibilidade de contratação de especialistas da iniciativa privada e as dificuldades estratégicas trazidas pela lei nº 8.666/1993, por exemplo.
Para o vice-presidente de tecnologia do Banco do Brasil (BB), Antonio Gustavo do Vale, as dificuldades vão além.
De acordo com ele, não apenas há a necessidade de uma educação “tecnológica” e de uma infraestrutura que possibilite a implementação das novas tecnologias, mas as normas bancárias também precisam de revisão.
“Algo precisa ser feito para permitir que essas tecnologias sejam também regulamentadas e se alinhem com as instituições financeiras. Tudo isso, porém, sempre mexe com a confiança do consumidor. Precisamos inovar em termos de arcabouço digital”, comenta.
Os executivos, no entanto, reforçam que os esforços das instituições em inovar seus processos já vêm de algum tempo e também já trazem alguns resultados positivos.
“Apesar das amarras trazidas pelo controle estatal, conseguimos ampliar a base de clientes e trazemos diversos investimentos tecnológicos”, diz o diretor geral de tecnologia da informação do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), Jorge Krug.
“As tendências são positivas”, complementa Krug.
‘Mindset monolítico’
Do outro lado, porém, o contraponto de que a forte aversão ao risco dos bancos públicos e seus processos “monolíticos” também precisam de reavaliação é recorrente entre demais especialistas do setor.
“Inovação é risco e experimentação. Assim, essas instituições precisam achar formas dentro da legislação de adotar esse conceito. Além disso, o mindset não pode ser monolítico. Vivemos em uma época de colaboração, onde desenvolvem-se ideias em conjunto e riscos e benefícios são divididos”, opina o presidente da TransUnion, Juarez Zortea.
O diretor da GFT da Espanha, Ignasis Barri, por sua vez, pondera que o encontro dos mundos tradicional e digital já está acontecendo e os bancos já percebem pequenas partes do share indo para as fintechs.
“Já temos visto mudanças bancárias e com bancos públicos não será diferente. O esforço será maior, mas a janela de tempo que eles têm para conseguir se atualizar é de, no máximo, cinco anos. Ou adotam novas tecnologias ou ficarão para trás, porque os mercados de renovam”, conclui.