A estiagem que diminuiu a colheita de grãos no Centro-Oeste e a menor lucratividade de grandes agricultores mais alavancados impactaram também a carteira de agronegócios do Banco do Brasil, principal financiador do segmento. A inadimplência saltou de 0,7% em setembro de 2023 para 1,97% um ano depois e ligou o alerta dos executivos da instituição.
O índice não é recorde, mas está acima do considerado ideal pelo BB, de 1,6%. As dívidas estão concentradas em produtores de soja, sobretudo do oeste de Goiás e de Mato Grosso, e em 210 grandes agricultores que entraram em recuperação judicial, segundo o vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar, Luiz Gustavo Braz Lage. Os débitos com o banco dos clientes em recuperação judicial somam R$ 1,1 bilhão.
O saldo de operações prorrogadas pelo BB também subiu quase 80% de janeiro a setembro e chegou a R$ 38,1 bilhões. “É óbvio que preocupa, mas sempre soubemos que 0,5% [inadimplência em junho de 2023] não era um patamar realista de atividade de crédito como o agronegócio. Da mesma forma que 1,97%, no nosso apetite a risco, também está um pouco além do que tínhamos imaginado”, disse Felipe Guimarães Prince, vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do BB.
O momento exigiu monitoramento forte da inadimplência e um processo mais agressivo de cobrança. “Temos antecipado nossas réguas de cobrança para identificar situações de pré-default e antecipar ações”, disse Braz Lage.
A atuação também é de sensibilização dos clientes, principalmente para orientá-los a não ceder ao que chamaram de “advocacia agressiva” de profissionais que oferecem auxílio para pedidos de recuperação judicial como forma de blindar o patrimônio do produtor. “É um cenário nunca antes visto no segmento do agro. Existem mecanismos tradicionais para compor a repactuação das operações e dar fôlego financeiro”.
Os executivos confiam na normalização da inadimplência com o cenário mais positivo da safra e o “arsenal” de cobrança colocado na rua pelo BB. Prince destacou que o risco de crédito ao agronegócio aumentou, mas que já está dado. “Não há crise no agronegócio, mas todo ‘boom’ traz efeitos colaterais”.
A inadimplência saltou de 0,7% em setembro de 2023 para 1,97% um ano depois e ligou o alerta dos executivos da instituição.