O Banco do Brasil (BBAS3) elevou sua projeção (guidance) de despesas com crédito duvidoso pelo segundo trimestre consecutivo. A instituição bancária espera agora fechar o ano com PCLD (Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa) no intervalo entre R$ 34 bilhões e R$ 37 bilhões.
Em agosto, quando anunciou sua primeira revisão do guidance, o banco apontava de R$ 31 bilhões a R$ 34 bilhões. No início do ano, o intervalo previsto era de R$ 27 bilhões a R$ 30 bilhões.
O indicador corresponde às despesas relacionadas com o risco de crédito, menos os valores recuperados de perdas, além de descontos concedidos e perdas por imparidade. E impacta diretamente o resultado. No acumulado de nove meses, a PCLD Ampliada apontou despesas de R$ 26,4 bilhões.
Em agosto, executivos do banco disseram a jornalistas e analistas que a inadimplência no segmento do agronegócio, um dos fatores que explicavam a primeira revisão do guidance, estava sob controle e que deveria ceder com a liberação de crédito para financiar a nova safra.
O setor atravessa um momento mais desafiador com a queda global nos preços das principais culturas, como soja e milho, além de eventos climáticos extremos que afetaram a produção na última safra, como as chuvas históricas que atingiram o Rio Grande do Sul em maio.
A inadimplência de mais de 90 dias no crédito para o agronegócio subiu de 0,71% da carteira em setembro de 2023 e de 1,32% em junho deste ano para 1,97% ao fim do terceiro trimestre; nas mesmas bases de comparação, a cobertura passou de 214,5% e 198%, respectivamente, para 165,3%
Sob a ótica de qualidade do crédito, o saldo com classificação AA, que dispensa provisões, equivalia a 78,0% do total da carteira agro em setembro de 2023; no terceiro trimestre deste ano, passou para 65,1%.
A nova revisão do guidance veio junto com a divulgação do resultado do terceiro trimestre, que apontou um lucro líquido ajustado de R$ 9,5 bilhões no período, praticamente estável (+0,1%) em relação ao segundo trimestre e um crescimento de 8,3% em um ano.
A rentabilidade medida pelo ROAE (retorno sobre o patrimônio líquido) foi de 21,1% no terceiro trimestre, abaixo do reportado no segundo (21,6%) e em igual período do ano passado (21,3%).
“Alcançamos o lucro líquido de R$ 24 bilhões nos nove primeiros meses do ano, reflexo do bom desempenho no crédito, nas captações, em serviços, em negócios do conglomerado e do foco no controle de custos. A nossa carteira de crédito classificada superou R$ 1 trilhão, com crescimento de 11,1% em relação a setembro de 2023″, destacou o banco no relatório sobre o resultado.
A carteira de crédito para pessoas físicas cresceu 7,5% em nove meses. Na carteira PF, o destaque do banco foram as operações de crédito consignado, que alcançaram R$ 137,2 bilhões em nove meses.
Já a carteira PJ, sem empresas do agro, cresceu 10,4%, com destaque para o saldo com clientes do segmento de grande empresas, que avançou para R$ 132,3 bilhões.
Crédito para o agronegócio
As operações de crédito no agronegócio, com produtores rurais de pequeno, médio e grande porte e com as empresas que atuam no segmento, apresentaram crescimento de 12,2% no mesmo período.
No agronegócio, houve um desempenho positivo da carteira ampliada (13,7% no ano) no período. No Plano Safra 2024/2025, o BB desembolsou R$ 63,4 bilhões.
Além disso, houve desembolso de R$ 11,0 bilhões na cadeia de valor do agro, totalizando R$ 74,4 bilhões. Foram mais de 200 mil operações contratadas no período em mais de 4.800 municípios, das quais 69,8% destinadas à agricultura familiar (Pronaf) e a médios produtores (Pronamp).
Também foi revisado o guidance para o aumento de despesas administrativas, do intervalo de 6% a 10% para 5% a 7%, o que sinaliza maior controle dos gastos. No acumulado do ano, foi observado 4,9%.
Inadimplência
Entre pessoas físicas, a inadimplência com mais de 90 dias de atraso atingiu 5,03%, em linha com setembro do ano passado. Para PJ, houve piora da inadimplência, que chegou a 3,58%, acima dos dados ao fim de junho (3,38%) e de setembro do ano passado (3,04%).
O BB divulgou ainda que aprovou a distribuição de R$ 2,759 bilhões a título de remuneração aos acionistas sob a forma de JCP (Juros sobre Capital Próprio), relativo ao terceiro trimestre.
O valor do provento foi fixado em R$ 0,48330421704 e será pago no próximo dia 6 de dezembro, tendo como base a posição acionária de 25 de novembro.
As ações do banco acumulam desvalorização de 6% desde o início do ano.