A temporada de balanços do terceiro trimestre de 2024 (3T24) se encerrou, assim como a temporada dos bancões. Algumas preferências se confirmaram após a divulgação dos números do período, assim como a expectativa de alguns números não tão positivos.
A Nord Research fez uma comparação com os principais números entre Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11), que segue abaixo:
Carteira de crédito
Itaú: carteira de crédito de R$ 1,3 trilhão, alta de +10%, com destaque para o aumento nas carteiras empresariais.
Bradesco: carteira de crédito de R$ 944 bilhões, alta de +8%, impulsionada pelo aumento de +17% na carteira de crédito pessoal.
Santander: carteira de crédito de R$ 663 bilhões, alta de +6%, com destaque para o crescimento no segmento de pessoa física.
Banco do Brasil: carteira de crédito, segmento mais dependente da economia, cresceu +13% na comparação anual, alcançando R$ 1,2 trilhão
Margem financeira
Itaú: margem financeira (diferença entre as receitas e as despesas com juros) de R$ 28,5 bilhões, alta de +8% na comparação anual, com maiores volumes de crédito e depósitos.
Bradesco: margem financeira de R$ 16 bilhões, alta de +1%, com a recuperação da margem com o mercado, devido às novas safras de crédito.
Santander: margem financeira de R$ 15,2 bilhões, alta de +16%, também em função de uma maior recuperação da margem com o mercado.
Banco do Brasil: margem financeira bruta de R$ 25,9 bilhões no 3T24, um crescimento de +9,3%
Receita total
Itaú: receita total (margem financeira + outras receitas além de juros) de R$ 42,7 bilhões, alta de +8%, com aumento de +15% na receita de seguros.
Bradesco: receita total de R$ 31 bilhões, alta de +5%, com maiores receitas de seguros e prestação de serviços.
Santander: receita total de R$ 20,6 bilhões, alta de +15%, com menor crescimento (+13%) da receita de comissões.
Banco do Brasil: na prestação de serviços, apresentou crescimento de receita de +4,9%, com destaque para o crescimento de +12% em administração de fundos, +11% em seguros, previdência e capitalização, +19% em consórcios e +34% em rendas do mercado de capitais.
Lucro líquido
Itaú: lucro líquido de R$ 10,7 bilhões, alta de +18%, com o aumento de suas receitas e queda no custo de crédito (provisões, basicamente).
Bradesco: lucro líquido de R$ 5,2 bilhões, alta de +13%, com aumento na receita total e redução em suas provisões para devedores duvidosos.
Santander: lucro líquido de R$ 3,7 bilhões, alta de +34%, com suas provisões crescendo muito menos que a receita total.
Banco do Brasil: lucro líquido no período cresceu +8,3%, alcançando R$ 9,5 bilhões, com provisões (PCLD) do BB aumentaram +34,2% em relação ao 3T23
ROE (retorno sobre patrimônio líquido)
Itaú: ROE de 22,7% (alta de +1,6 p.p.).
Bradesco: ROE de 12,4% (alta de +1,1 p.p.).
Santander: ROE de 17% (alta de +3,9 p.p.).
Banco do Brasil: ROE de 21,1% (queda anual de 0,2 p.p.)
Qual se saiu melhor após o 3T?
A visão de mercado para as preferências do setor seguiu praticamente a mesma após o 3T24, com destaque para o Itaú, enquanto os números do BB, que disputava nos últimos trimestres a preferência entre os bancões, não agradaram. Enquanto isso, apesar do Bradesco não animar no 3T24, a trajetória de recuperação segue para o banco, assim como para o Santander.
A XP é uma das que prefere o Itaú e reiterou a ação ITUB4 como top pick (preferida) após o 3T24. Os analistas da casa apontaram que o banco apresentou outro conjunto impressionante de resultados. O ROE de 22,7%, além disso, poderia ter sido ainda maior se não fosse o excesso de capital, já que o índice de Basileia ficou em 17,2% no final do trimestre.
“Esse forte desempenho reflete uma aceleração no crescimento da carteira, levando o banco a revisar para cima seu guidance de crescimento da carteira para 2024. De modo geral, prevemos que o banco continuará a aumentar seus lucros nos próximos trimestres, enquanto distribui seu capital excedente aos acionistas”, apontaram os analistas.
Os analistas ainda elevaram o preço-alvo de R$ 42 para R$ 43 após o balanço, revisando o modelo de forma a considerar: (i) ROE melhor do que o previsto; (ii) um cenário macroeconômico mais difícil em 2025, levando a um crescimento marginalmente mais lento da carteira de empréstimos; (iii) um histórico comprovado em modelagem de crédito, evitando uma piora dos NPLs (índice de inadimplência); e (iv) um payout (dividendo em relação ao lucro) terminal de 75% (acima dos 70% anteriores).
“Nossas estimativas não levam em conta qualquer melhoria significativa nos resultados em virtude do lançamento do Super Apps: One (para pessoas físicas) e Emps (para PMEs), que vemos como riscos de alta para nossas estimativas”, apontam.
A Nord Research também coloca o Itaú na preferência entre os bancões, mas tendo recomendação de compra para o ativo ON (ITUB3) da instituição financeira. Para os analistas da casa, o Itaú segue sendo o preferido devido ao constante crescimento de sua carteira de crédito, margem financeira (e outras receitas) e, principalmente, lucro líquido.
A casa também ressalta a expectativa de um bom dividendo complementar para o exercício de 2024, que deverá ser anunciado no início do próximo ano. Em teleconferência do 3T24, Milton Maluhy Filho, presidente-executivo do banco, destacou que “certamente” o banco deverá pagar dividendos extraordinários referentes ao exercício de 2024, com base nas informações que dispõe atualmente.
“A discussão é sobre qual é o tamanho do dividendo”, disse o executivo, acrescentando que a divulgação dessa decisão deve ocorrer no começo de 2025, quando será publicado o balanço de 2024, bem com as projeções do banco para o próximo exercício.
Entre as maiores rentabilidades, mas com um resultado não tão animador e afetado pelo agro, esteve o Banco do Brasil. Os números foram impactados principalmente por um aumento significativo na provisão para perdas com empréstimos (+34,2% ano a ano), em grande parte devido ao segmento de agronegócios.
Além disso, após o fraco desempenho da inadimplência, o BB teve que revisar seu guidance para o Provisões (PCLD) pelo segundo trimestre consecutivo. ‘Embora um desempenho negativo no segmento agrícola tenha sido amplamente antecipado pelos investidores, não descartamos um possível impacto negativo em suas ações em decorrência desse resultado trimestral. No entanto, reafirmamos nossa visão de que o BB ainda está negociando a múltiplos com desconto e mantemos nossa recomendação de compra para BBAS3“, avalia a XP.
Já a Nord, pelas projeções de crescimento, múltiplos atuais, rentabilidade e riscos, apontou gostar bastante de Banco do Brasil, mas segue com recomendação de compra apenas para as ações ITUB3 na carteira Nord dividendos.
O Goldman Sachs, embora aponte que as condições agro fossem um tanto esperadas, a magnitude das provisões foi uma surpresa. O banco, contudo, segue com recomendação de compra, equivalente à recomendação do JPMorgan (overweight, ou exposição acima da média do mercado).
A Genial Investimentos também tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 34. “Para o 4T24, esperamos um cenário mais positivo, com uma melhora sazonal, redução no custo de crédito e maior aceleração na concessão de crédito. No entanto, a deterioração do segmento agro e uma alíquota de imposto baixa e não sustentável devem pesar na reação do mercado”, avalia.
O Bradesco, por sua vez, teve um trimestre não tão positivo após ser um destaque de recuperação no 2T24, com as ações caindo mais de 4% após o balanço do 3T24. O Itaú BBA, após o balanço, reduziu as estimativas de lucro do Bradesco para 2025 em 3%, uma vez que os spreads (NIMs) mais baixos tiveram um custo de risco (provisões) correspondente menor. Além disso, o preço da ação corrigiu para refletir uma recuperação mais lenta do retorno sobre o patrimônio (ROE) devido a uma receita de crédito menor. “Aceitamos a nova curva de ROE, porém mantemos nossa recomendação de compra’ para BBDC4, pois vemos uma boa assimetria positiva na relação preço/lucro de 6,3 vezes estimado para 2025″, avalia o BBA, que tem preço-alvo para o final de 2025 de R$ 17 por ação.
O Bradesco, aponta o banco, está focado em retornos ajustados ao risco (e ao capital), em uma seleção mais criteriosa de clientes e em produtos. “Apreciamos essa alocação prudente de capital em um cenário de crédito potencialmente mais desafiador em 2025, com pouco espaço para erro. O banco também está mostrando mudanças com o novo segmento de alta renda (principal) e novas aquisições de hospitais na área de saúde. No geral, a reestruturação do Bradesco ainda está em estágio inicial”, destaca a equipe de análise.
Para os analistas, a recuperação é menos acentuada e empolgante, mas espera que os resultados continuem a melhorar trimestre a trimestre, com crescimento de 20% no ano em 2025, alcançando um ROE de aproximadamente 14% ao final do ano.
A Genial também tem recomendação de compra para BBDC4, com preço-alvo de R$ 19. “Apesar da foto não ser boa quanto as expectativas do mercado e o cenário no Brasil permanecer desafiador, o filme do banco continua apontando para uma gradual melhora de rentabilidade”, avalia a equipe de análise da casa de research. Também com compra, o Goldman Sachs tem preço-alvo de R$ 17,50 para BBDC4.
A XP, por sua vez, tem recomendação neutra para os ativos. “Embora confirmando a tendência de recuperação, a curva de crescimento esperada parece um pouco mais lenta, e o ambiente macro pode atrasar essa recuperação no crescimento do crédito”, avalia a equipe de análise.
Em recente reunião com os executivos do Bradesco, a XP ressaltou a confiança do banco no direcional de crescimento. Além do reposicionamento no alta renda, o banco continua focado em ajustar seu custo de atendimento no segmento massificado. Sobre o crescimento do NII (margem financeira), Marcelo Noronha, CEO do banco, se mostrou confiante na tendência de recuperação gradual, embora o objetivo não seja crescer o portfólio indiscriminadamente, mas sim focar em rentabilidade e aumentar a principalidade dos clientes. O banco continuará sua abordagem focada no crescimento do NII Clientes, excluindo a PDD.
Praticamente na mesma linha, o Santander Brasil aparece no 3T24 com a visão de que está caminho certo para entregar resultados ainda melhores no futuro, avalia a XP. “Nos últimos trimestres, o banco diversificou seu mix de financiamento, aumentou sua exposição a clientes de alta renda (Select), melhorou a qualidade do crédito e alcançou um crescimento saudável da carteira por meio de uma atividade comercial eficaz. Em nossa opinião, essas conquistas preparam o caminho para que o banco aumente ainda mais sua lucratividade, deixando para trás os dias de ROE abaixo do custo de capital”, apontam os analistas da casa.
A XP ainda segue com recomendação neutra para as units, na mesma linha da Genial, que possui recomendação de manutenção para SANB11. “Apesar da contínua melhora na rentabilidade e um valuation voltando a patamares atraentes, ainda acreditamos que existem melhores opções de investimento dentro do setor”, avalia a Genial.
Negociando a 8,0 vez o P/L esperado para 2024, 6,8 vezes o P/L para 2025 e 1,15 vez P/VP esperado para este ano, o banco está com um prêmio em relação a rivais, com exceção do Itaú que tem uma rentabilidade superior e mais consistente ao longo dos ciclos de crédito. Dessa forma, a Genial reitera recomendação de manter com preço-alvo de R$ 31,80. O Goldman, por sua vez, tem recomendação de venda para os ativos SANB11, com preço-alvo para 12 meses de R$ 27 por SANB11.
A Nord também não recomenda a compra para os ativos. Os analistas destacam que, diante dos resultados divulgados, é possível notar uma contínua recuperação nos números operacionais e financeiros do Santander. “Contudo, o banco ainda segue distante de atingir os patamares pré-pandemia, em especial quanto o assunto é rentabilidade. Até 2020, o Santander possuía um lucro anual superior a R$ 16 bilhões e, agora, de cerca de R$ 12 bilhões. Já seu ROE (12 meses) chegou a 18% no final de 2019 e agora está em 9,9%”, aponta a casa.
Fonte: Infomoney